“Durante quatro anos, dia a dia, fomos testemunhas de ações
liberticidas que intencionavam abater quaisquer laços orgânicos em nossa vida
comum, negando-se realidade fática à existência dessa coisa chamada de sociedade.
O fascismo e sua pregação neoliberal das hostes bolsonaristas só admitiam o
indivíduo isolado, mônada de interesses privados somente postos em ordem pela
intervenção mítica do chefe da nação. Nesse sentido, havia algo de misticismo
no chienlit brasileiro de 8 de janeiro, em que uma massa de indivíduos
ignaros, à falta física do seu chefe, tentou baixar o seu espírito como num
culto religioso a fim de realizar a obra que lhe cabia no sentimento de todos.
Bolsonaro encarnou, assim em unção mística, a depredação em que cada
manifestante em êxtase destruía um ícone nacional.
Os alemães, depois de 1945, solenemente prometeram que sua
tragédia nacional não mais se repetiria, e conseguiram. Seremos capazes do
mesmo?”
*Luiz Werneck Vianna (1938-2024). Sociólogo, “A patologia brasileira
e seus remédios”, Blog Democracia Política e novo Reformismo, 15/1/2023.

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