
Redistribuição de renda foi forte na Venezuela de Chávez, mas economia não dá conta da alta do consumo popular
Venezuelanos correm às lojas a fim de comprar TVs e eletrodomésticos. Racionalmente, temem que os produtos desapareçam ou fiquem mais caros devido à mudança no câmbio. Um dólar no mercado oficial valia 2,15 bolívares até a megadesvalorização da moeda decretada por Hugo Chávez, na semana passada. Agora, no câmbio de produtos "não essenciais", um dólar compra 4,3 bolívares.
A Venezuela importa muito e quase de tudo de seu "consumo essencial". Não se trata de inovação chavista. Desde meados do século passado, a elite venezuelana ignorou o problema do câmbio valorizado, que se agravou com o aumento das exportações de petróleo. Indústria e agricultura foram muito prejudicadas. Com a melhoria da distribuição de renda e a redução da pobreza nos anos mais recentes de Chávez, o consumo popular aumentou. A produção não aumentou o suficiente.
Preços e juros tabelados, licenças para importar e algumas outras intervenções ineptas nas empresas limitam os investimentos. Tem havido racionamento de eletricidade.
A distribuição de renda tem sido forte na Venezuela. Em 1997, a renda dos 20% mais ricos era 14,5 vezes superior à dos 20% mais pobres, segundo dados da Cepal (Chávez assumiu em 1999). Em 2008, tal relação caíra para 9, uma queda de 38%. No Brasil, a renda dos mais ricos era 35,6 vezes maior que a dos 20% mais pobres, relação reduzida para ainda absurdas 24 vezes em 2008 (queda de 32%). Na Colômbia, a desigualdade aumentou. A renda dos mais ricos era 20 vezes a dos mais pobres em 1996 e 22 vezes em 2008. No México, tal relação ficou quase na mesma (16 em 1998, 14 em 2008).
Desde 1998, o PIB venezuelano cresceu 38%. O do "reformado" México, 33%; Brasil, 39%; Argentina, 32%. O melhor aluno da classe, o liberal Chile, 45%. Mas o Chile já era um país mais arrumado e civilizado antes das "reformas" e é muito pequeno. Em suma, outra história.
A revolução bolivariana então é um sucesso? Difícil. No que diz respeito à economia, com ou sem revolução a Venezuela depende simplesmente do preço do petróleo. Entrou em recessão de uns 3% no ano passado devido à baixa do preço do barril. Não deve crescer nada neste ano. Com a desvalorização do bolívar, Chávez redistribui parte da renda nacional. A estatal do petróleo PDVSA vai receber mais bolívares pelos seus, digamos, petrodólares. O petróleo responde por cerca de 50% da receita do governo. Assim, Chávez põe mais dinheiro no cofre. A desvalorização também reduz o valor relativo da dívida em relação às receitas do governo. Enfim, o bolívar fraco vai encarecer bens comprados pelos mais ricos e reservar mais dólares para a compra de comida, remédios e máquinas. Mas vai encarecer muito insumo industrial, o que já tem ocorrido devido à escassez de divisas e ao controle de câmbio. No câmbio livre, paralelo, a taxa ontem era de 6,4 bolívares por dólar. Chávez pretende substituir o investimento privado com esse caixa extra da desvalorização, além de manter o gasto social. Este ano é de eleição parlamentar na Venezuela.
No curto prazo, o remendo funciona. Mas, sem investimento, sua revolução pode resultar em cubanização, no pior sentido da palavra.
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