quinta-feira, 14 de julho de 2011

Efeitos políticos e eleitorais do mensalão, estes sobretudo contra o PT paulista:: Jarbas de Holanda


O parecer do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no fim da semana passada, com as alegações finais sobre o processo do mensalão – confirmando a denúncia da “sofisticada organização criminosa”, feita em março de 2006 pelo antecessor Antonio Fernando de Souza, e aduzindo que o escândalo representou “a mais grave agressão à democracia que se possa conceber” – contrapôs-se ao esforço do ex-presidente Lula de esvaziamento do processo. Como parte do acerto que fez com o chefe da “organização”, José Dirceu, de se dedicar a “desmontar a farsa do mensalão” quando deixasse o governo. A reintegração recente ao partido de uma das figuras emblemáticas do escândalo, o ex-tesoureiro Delúbio Soares, inseriu-se nesse acerto.

O processo, ao invés do esvaziamento – buscado também, ano a ano, por inúmeras manobras de bloqueio e dilatórias e, ultimamente, por tentativas de transferência do STF para outras instâncias, tendo em vista estendê-lo até a prescrição penal – em vez disso terá peso relevante na cena política no ano eleitoral de 2012. Arrastando-se provavelmente até o segundo semestre pois, ao
voto do relator Joaquim Barbosa, deverá seguir- se um período de vários meses para o do ministro revisor da matéria, Ricardo Lewandowski. Tudo isso, bem como o resto do julgamento, acompanhado por debates no Congresso e na sociedade, com grande repercussão na mídia.

Outro objetivo de José Dirceu, explicitado na última disputa presidencial e reforçado com a recente escolha do seu preposto Rui Falcão para a presidência nacional do PT, o de ampla hegemonia do partido no governo Dilma Rousseff, será igualmente afetado, de modo bem negativo, pelos efeitos políticos do julgamento dos réus do mensalão. A presidente disporá de um bom motivo adicional para conter as pressões da cúpula petista por mais influência na composição e nas decisões do Palácio do Planalto. E tais efeitos deverão manifestar-se também no Congresso, nesta área favorecendo o PMDB que, com menos resistência do principal concorrente na base governista, passará a exercer o comando das mesas das duas Casas com a eleição do presidente da Câmara no início do próximo ano.

Quanto aos efeitos eleitorais da presença expressiva ao longo de 2012 do mensalão na pauta política e na imprensa (independentemente do resultado do julgamento do STF), haverá reflexos na opinião pública de todo o país, mas seu peso será bem maior nas grandes cidades do Centro/Sul, na contramão da nova estratégia lulista-petista de avanço nas camadas médias urbanas. Esse peso dificultará ou obstruirá especialmente a prioridade de Lula de aplicação dessa estratégia em São Paulo. Programada por ele para as disputas das prefeituras da capital, da Região Metropolitana e de grandes municípios do interior, com o uso delas como preparação para a conquista do governo do estado em 2014. E a dificuldade que ele terá pela frente poderá acentuar-se, ainda mais, com uma mistura do escândalo do mensalão ao dos aloprados. Se a reabertura deste resistir
ao forte empenho contrário, para abafá-lo, que o Planalto e o PT estão fazendo no Congresso e junto ao Ministério Público.

Jarbas de Holanda é jornalista

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