terça-feira, 1 de novembro de 2011

Posse no Esporte vira ato de desagravo ao PC do B

As denúncias de corrupção no Ministério do Esporte e de aparelhamento da pasta pelo PC do B passaram longe das cerimônias de posse do novo ministro, Aldo Rebelo, e de transmissão do cargo. Chamado de vítima por Aldo, o ex-ministro Orlando Silva foi elogiado pela presidente Dilma Rousseff que, em seu discurso no Palácio do Planalto, lhe desejou "muito sucesso em sua cruzada pela verdade". Ao lembrar que Aldo também é do PC do B, ela disse que preserva o apoio de um partido cuja presença em seu governo considera "fundamental". No ministério, onde transmitiu o cargo, Orlando ganhou flores e chocolates. Mas quem roubou a cena foi o presidente do PC do B, Renato Rabelo, com o primeiro e mais longo discurso da tarde, no qual disse que o partido sai "unido e engrandecido" da crise que derrubou Orlando

Na posse de Aldo, elogios sem fim

Novo ministro do Esporte diz que Orlando Silva é "vítima"; Dilma enaltece PCdoB

Chico de Gois, Luiza Damé, Demétrio Weber e Maria Lima

Nem parecia que a crise provocada por um escândalo de corrupção, com desvios de recursos no principal programa do Ministério do Esporte, motivou a troca do comando da pasta. As cerimônias de posse do novo ministro, Aldo Rebelo, no Palácio do Planalto e na sede do ministério, transformaram-se em sessão de desagravo ao PCdoB, partido que está há nove anos no comando do ministério, com responsabilidade direta sobre as centenas de convênios com entidades civis e públicas sob suspeição.

O ex-ministro Orlando Silva também mereceu muitos elogios. No Planalto, a presidente Dilma Rousseff enalteceu o papel do PCdoB no governo de coalizão do PT, disse que Orlando fez um excelente trabalho e afirmou que ele tem seu respeito. Aldo foi na mesma linha e disse que Orlando, mais que inocente, é uma vítima.

As homenagens ao PCdoB e a Orlando continuaram na solenidade de transmissão de cargo, no Ministério do Esporte, que contou com um fato inédito: coube ao presidente do PCdoB, Renato Rabelo, abrir os discursos e comandar a troca.

Dilma - que chamou o novo ministro, erroneamente, em duas citações de Aldo Rabelo, e não Rebelo - qualificou o trabalho de Orlando à frente da pasta como "excepcional" e disse que o ex-colaborador tem todo seu respeito.

- Esta cerimônia não estava nos meus planos, nos planos do governo. Muitas vezes somos conduzidos a situações inesperadas que temos de enfrentar. E enfrentar, muitas vezes, com tristeza, mas sempre com coragem e determinação. Foi o que fizemos neste caso, sem abrir mão de construir o caminho que escolhemos - discursou Dilma. - Orlando Silva não perde meu respeito. Desejo-lhe muito sucesso em sua cruzada pela verdade. Perco um colaborador, mas preservo o apoio de um partido cuja presença no meu governo considero fundamental. O PCdoB tem sido, nos últimos nove anos, um parceiro leal e relevante do nosso projeto nacional de governo e de desenvolvimento.

Orlando Silva diz que é "inocente"

Primeiro a discursar na solenidade do Planalto, Orlando agradeceu a Dilma e ao ex-presidente Lula pela oportunidade e aos parlamentares por aprovarem projetos de interesse da pasta. Ainda agradeceu aos dirigentes esportivos e atletas. E arrancando aplausos ao se defender:

- Presidente, eu queria olhar nos olhos da senhora e dizer: Eu sou inocente.

Aldo, que fez o discurso seguinte, não poupou afagos ao antecessor:

- Talvez mais que inocente, vítima das consequências da luta social e política - afirmou, dirigindo-se a Orlando, emendando. - Meu partido não está acima das críticas, está aberto a aceitar os reparos e a procurar a corrigir deformidades e desvios, mas constitui a continuidade de uma herança histórica, a luta pela igualdade, pelos direitos, pela democracia

Sobre o novo ministro, Dilma destacou que é um homem de Estado, um parlamentar respeitado. Sem citar a Fifa ou o nome do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, presente à cerimônia, ordenou ao novo auxiliar que sejam estabelecidas bases claras para a organização da Copa:

- Ele tem plenas condições de dar continuidade às políticas prioritárias do ministério que hoje está assumindo e estabelecer, desde logo, relações claras com todos os entes envolvidos na preparação da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Aldo Rabelo (sic), como nós podemos perceber por esse plenário, é rico em amigos e companheiros que conhecem seu caráter, suas convicções e seu respeito.

Na transmissão de cargo no ministério, a estrela não foi o ministro que entrou, mas o presidente do PCdoB e o ministro que caiu. Foi de Rabelo o primeiro, o mais longo e mais inflamado discurso no auditório repleto de servidores .

Rabelo disse que o "camarada" Orlando enchia de orgulho o partido. Afirmou que o PCdoB saía engrandecido do episódio de sua queda e iria até as últimas consequências para derrubar a tentativa de denegrir sua imagem. Ainda negou que o PCdoB interfira nas atividades de seus militantes no governo:

- Esse não é um elogio fácil. Emocionado, mas baseado na realidade. Orlando sai muito mais engrandecido desse processo. Vai levar até o fim a missão de provar sua inocência e que o PCdoB foi atacado de forma vil, em uma campanha sórdida! Não vamos baixar a cabeça! O partido sai mais unido e engrandecido, e vamos enfrentar até o fim essa tentativa de nos denegrir! - discursou Renato Rabelo, frisando que o PCdoB tem história, ideias e fisionomia e contribuiu para o governo do ex-presidente Lula, quando tinha dois ministérios.

Orlando também discursou na sua despedida do ministério. Disse que sua equipe ficou abalada por ter visto seu trabalho na pasta ser tratado "de forma vil e desonesta".

- Não se deixem abater. A melhor resposta é trabalhar e aperfeiçoar mais o trabalho. A tempestade passa e tem uma hora que volta a bonança - discursou Orlando, lembrando trecho de samba "Juízo final", de Nelson Cavaquinho, que fala que uma hora a luz haverá de chegar em seus corações.

Aldo, último a discursar, só falou depois de uma série de homenagens de servidores a Orlando. Citou a importância dos programas, e encerrou com mais elogios a Orlando:

- Vou procurar seguir o seu exemplo, para quando eu sair, eu ser digno das mesmas homenagens.

FONTE: O GLOBO

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