Ao fazer ontem um balanço do seu primeiro ano de governo em café da manhã com jornalistas, a presidente Dilma Rousseff disse ter "tolerância zero" com malfeitos. Ela defendeu a permanência do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, afirmando que as suspeitas de tráfico de influência que pesam contra ele referem-se ao período anterior à sua posse. "Não tem nada a ver com meu governo". Perguntada por que Antonio Palocci então deixou a Casa Civil também sob suspeita de tráfico de influência, respondeu que ele "quis sair". Pesquisa Ibope mostra que a popularidade de Dilma bateu recorde: é maior que a dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique no primeiro ano de governo
"Nada a ver com meu governo"
A ENTREVISTA DA PRESIDENTE
Dilma diz que Pimentel não era ministro quando fez consultoria e que Palocci saiu porque quis
DILMA: "Vocês vivem falando que vai haver reforma, mas ninguém me perguntou. Vão ficar surpresos: (a resposta) é não"
Luiza Damé, Chico de Gois
A presidente Dilma Rousseff fez ontem uma pregação contra a corrupção, afirmando que, no seu governo, há "tolerância zero" com desvios, malfeitos e práticas inadequadas. No entanto, defendeu o seu amigo e ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, argumentando que as denúncias contra ele não dizem respeito a seu governo. Questionada, então, por que o ex-ministro Antonio Palocci perdeu o cargo, já que viveu situação semelhante à de Pimentel - consultorias milionárias com suspeitas de tráfico de influência -, ela respondeu que o ex-chefe da Casa Civil "quis sair" do governo.
Dilma, que já dissera que as supostas irregularidades envolvendo a empresa de consultoria de Pimentel são problemas privados dele, voltou a bater na mesma tecla:
- Não tem nada a ver com o meu governo - disse, durante café da manhã com jornalistas credenciados no Palácio do Planalto, prática instituída pelo ex-presidente Lula.
Dilma disse ainda que os partidos têm o direito de indicar nomes, mas não o poder de ingerência no seu governo. E, contrariando especulações dos últimos meses alimentadas pelo próprio Palácio do Planalto, disse que não fará uma reforma ministerial em janeiro. Nem pretende extingir ou fundir ministérios para enxugar a máquina. A seguir, os principais trechos da conversa com os jornalistas:
PIMENTEL: "Não é (o caso de) dois pesos e duas medidas. (O caso) Pimentel não tem nada a ver com meu governo. Nada a ver o que estão acusando com o meu governo. Nada."
POR QUE PALOCCI SAIU: "O Palocci quis sair."
DEMISSÃO DE MINISTROS: "Foi um momento de dificuldades. Não de desgaste. É do ofício da presidente tomar medidas duras. Lamento, porque muitos dos ministros que saíram eram pessoas que eu considerava muito capazes."
TOLERÂNCIA ZERO: "O meu governo não tem nenhum compromisso com qualquer prática inadequada, de malfeito, de corrupção dentro do governo. Nenhum. É zero. Tolerância zero."
PARTIDOS ALIADOS: "Vou, cada vez mais, exigir que os critérios de governança internos do governo sejam critérios internos do governo: que nenhum partido político interfira nas relações internas do governo. Isso vale para todos os partidos políticos. Uma coisa é a governabilidade, e é importante que os partidos participem, possam indicar nomes, mas, a partir do momento em que o nome for indicado, ele presta contas ao governo e não presta contas a mais ninguém."
ALIADOS 2: "Não acho que os partidos tenham tido ingerência no meu governo. Em alguns momentos houve algumas tentativas, muito menos por causa do partido e muito mais por causa das pessoas indicadas."
ESCÂNDALOS: "Isso (denúncias contra ministros) tem um efeito para o qual vocês, de certa forma, contribuem. Cada vez que há um processo desses, estou lançando os melhores programas, e vocês estão falando de outra coisa. É como se houvesse dois Brasis. Obviamente, escândalo vende mais jornal."
CAÇA ÀS BRUXAS: "Tenho de preservar a integridade do governo, preservar um governo que não tenha irregularidades, mas não posso sair por aí apedrejando pessoas, acabando com a honra da pessoa e fazendo julgamentos sem direito de defesa. Por nenhuma pressão farei isso. Um país como o nosso tem de preservar duas coisas: não tolerar malfeitos, mas preservar sua capacidade de não criar caça às bruxas. Já se viu isso em outros países. Nunca dá certo, nunca leva a boa coisa. Não permitiria isso. Não é condizente com um país que deu tantos passos na direção à democracia."
REFORMA MINISTERIAL: "Vocês vivem falando que vai haver reforma, mas ninguém me perguntou. Vão ficar surpresos: (a resposta) é não. Não venham com essa conversa (de reforma). Não (vai haver enxugamento da máquina), não é isso que faz a diferença no governo. Cada ministério tem determinado tipo de responsabilidade. Tem ministério com responsabilidade imensa, como a Fazenda. Tem ministério com responsabilidade imensa, política, como o das Mulheres, o da Promoção da Igualdade Racial. São diferentes. Quem não enxerga isso é porque não está no dia a dia do governo."
PROFISSIONALIZAÇÃO DO ESTADO: "A eficácia de um governo vai se dar quando conseguirmos mudar muitas práticas de governança. Nenhum país do mundo, nem a China, conseguiu dar saltos substantivos no seu desenvolvimento sem que o Estado sofresse uma reforma e conseguisse uma base de grande eficiência. Temos de fazer um processo de profissionalização do Estado brasileiro. Temos áreas de alta profissionalização e competência: Itamaraty, Receita, Exército, Marinha e Aeronáutica. Estou falando em modificação no cerne, no funcionário do governo. Uma valorização, mas uma exigência de eficiência. Estou falando de profissionalismo. De meritocracia, também. Preciso de um Estado ágil."
OPOSIÇÃO: "É muito importante para o Brasil uma relação civilizada entre governo e oposição. O que temos visto nos países, este ano, foi uma relação oposição x situação extremamente incivilizada, deletéria. Não foi só nos Estados Unidos. Em vários países se verificou a perda da noção do bem comum. Isso não é adequado num processo democrático. Acredito em estender as mãos à oposição em todas as circunstâncias em que está em jogo o interesse do país."
FONTE: O GLOBO
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