Entrevistado para livro sobre seu governo, petista cobra que legenda faça política livre de 'relações promíscuas'
Ex-presidente defende financiamento público de campanha: 'Às vezes tenho a impressão de que partido é negócio'
SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acha que o PT precisa recuperar "valores" que teriam sido "banalizados por conta da disputa eleitoral" e que precisa "provar que é possível fazer política com seriedade" no país.
As declarações foram feitas por Lula numa entrevista que deu em fevereiro ao sociólogo Emir Sader e a um pesquisador argentino, Pablo Gentili, para o livro "10 Anos de Governo Pós-Neoliberal no Brasil - Lula e Dilma", que será lançado no dia 13.
Trechos do livro foram antecipados ontem pela revista "IstoÉ" e pelos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Globo".
"O PT precisa voltar a acreditar em valores que a gente acreditava e que foram banalizados por conta da disputa eleitoral", diz Lula na entrevista, ao refletir sobre as mudanças sofridas pelo partido depois de dez anos no poder.
Sem fazer menções explícitas ao escândalo do mensalão, que abalou seu primeiro mandato, Lula diz na entrevista que o PT aprendeu a fazer alianças para governar, mas cometeu "os mesmos desvios que criticava" antes.
"Você pode fazer o jogo político, aliança política, coalizão política, mas não precisa estabelecer uma relação promíscua para fazer política", afirma o ex-presidente. "O PT precisa voltar urgentemente a ter isso como tarefa dele."
Ecoando discurso adotado pelo PT para se contrapor ao resultado do julgamento do mensalão, Lula defende na entrevista reformas no sistema eleitoral e o financiamento público das campanhas.
"Às vezes tenho a impressão de que partido político é um negócio, quando, na verdade, deveria ser um item extremamente importante para a sociedade", conclui. Sem mudanças, diz, a política ficará "mais pervertida que em qualquer outro momento".
O Supremo Tribunal Federal concluiu que o mensalão foi um esquema de compra de apoio político que distribuiu milhões de reais a partidos que aderiram a Lula após sua chegada ao poder, mobilizando recursos públicos e empréstimos bancários.
Os petistas negam que tenha havido compra de votos no Congresso e alegam que o mensalão era apenas um esquema de caixa dois para financiar dívidas contraídas pelo PT e pelos partidos aliados nas eleições de 2002.
Lula faz na entrevista apenas uma breve menção ao mensalão, para criticar a mídia: "Se não tivéssemos cuidado, não iríamos discutir mais nada do futuro, só aquilo que a imprensa queria que a gente discutisse", diz ele.
Descrevendo-se como "um indesejado que chegou lá", Lula afirma que houve uma tentativa de acabar com seu governo e o PT após o mensalão, e ataca a oposição.
"Passaram-se seis anos e quem acabou foram eles. O DEM nem sei se existe mais. O PSDB está tentando ressuscitar o jovem Fernando Henrique Cardoso porque não criou lideranças", afirmou.
Sobre a presidente Dilma Rousseff, Lula disse ter enfrentado resistência até mesmo de amigos quando decidiu lançá-la como sua sucessão. Ele diz na entrevista que ouviu que ela não tinha experiência e não era "do ramo".
Sua resposta, segundo afirmou, foi de que era preciso surpreender o Brasil com a "novidade" de eleger uma mulher para a Presidência da República.
Fonte: Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário