- O Globo
O governo do Estado do Rio está mais uma vez enfrentando um conjunto de problemas que se retroalimentam no que é o seu projeto mais importante, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas cariocas.
Alvos de uma campanha popular movida a indignação, por mais um assassinato, o do dançarino Douglas Rafael Pereira “DG”, as UPPs são também objeto de ardis dos traficantes, que se aproveitam do trauma provocado pela morte na comunidade para tentar desmoralizar o símbolo da política de Segurança mais efetiva já colocada em prática no Rio nos últimos muitos anos.
Cartazes com “Fora, UPP” e “UPP assassina” servem necessariamente aos bandidos, que lutam para recuperar os territórios ocupados pelas forças do Estado, e paradoxalmente são auxiliados pela péssima fama dos policiais, representantes desse mesmo Estado, cuja atuação, muitas vezes atrabiliária, em vez de levar segurança à comunidade, leva o terror em nome do Estado que deveria defendê-la.
O terror da parte podre, que faz com que a culpa da polícia seja a hipótese mais plausível nesses casos, no entanto, não pode inviabilizar o esforço de controle e pacificação dos territórios ocupados há 30, 40 anos por bandidos que hoje já fazem parte do tráfico internacional de drogas e estão muitas vezes mais armados do que a própria polícia que os combate.
São esses bandidos que historicamente implantaram o terror nas comunidades e hoje estão sendo confrontados pelas forças do Estado pela primeira vez em muitos anos. É uma questão que não se resolve senão com o tempo, com uma reforma radical na polícia e uma ação social que ainda engatinha, apesar das cobranças do próprio secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame.
Mesmo que haja dúvida sobre se a violência está provindo da deficiência das políticas sociais, não pode haver dúvida sobre a necessidade delas na tentativa de solução. A própria presença do tráfico, porém, impede que a violência seja reduzida, mesmo nos locais onde há alguma presença social do Estado.
A realidade está mostrando que a estratégia de afugentar os bandidos com a chegada do Exército e outras forças policiais não resolve a questão, pois, se o principal objetivo é recuperar o território, ele fica prejudicado com a permanência dos bandidos fora da prisão, que sempre tentarão reaver seus domínios.
A corrupção da polícia é outro problema básico. Os policiais que mataram Amarildo faziam parte dessa nova geração de policiais das UPPs, que recebem um treinamento diferenciado com sentido de pacificação, mas o mais das vezes não estão em condições de executá-lo sob pressão. Ou se deixam corromper pelo tráfico.
A população está descontente com a atuação da polícia em várias comunidades, do que se aproveitam os traficantes. Encarar uma guerra em que o tráfico está mais bem aparelhado, e num terreno que eles conhecem melhor, traz insegurança ao policial e, em consequência, ao cidadão.
Há ainda a violência política de grupos que se utilizam das manifestações para conturbar o ambiente. O governador Pezão diz que, desde as manifestações de junho, o tráfico se aproveitou e tentou desestabilizar algumas UPPs, principalmente as que atuam onde há mais interesses comerciais, mercados consumidores fortes, como Rocinha e Pavão-Pavãozinho.
São 30 a 40 anos de uma ocupação pesada do tráfico, muito dinheiro circulando, analisa ele, e não vai ser com quatro, cinco anos de ocupação que o governo vai conseguir acabar com gerações de traficantes que vivem disso há muito tempo.
Acho que as UPPs têm que se transformar em política de Estado, e não de governo, com enfoque especial nas políticas sociais e na reformulação da polícia. (Amanhã, o enfoque social)
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