Vera Rosa - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A descoberta de um vigoroso esquema de corrupção na Petrobrás pesou na decisão da presidente Dilma Rousseff de trilhar o caminho da ortodoxia na política econômica, segundo ministros ouvidos pelo Estado. Com o crescimento beirando a zero, investimentos em queda e o perigo de rebaixamento da nota do Brasil pelas agências de classificação de risco, a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, obrigou Dilma a passar uma borracha no discurso de campanha, ignorar os protestos do PT e mergulhar no pragmatismo.
No Palácio do Planalto, a indicação do economista Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda dividiu auxiliares da presidente, mas acabou definida como "mal necessário" para resgatar a confiança na economia.
Ex-secretário do Tesouro no governo Lula, de perfil conservador, Levy tem a missão de acabar com as "pedaladas fiscais". O temor dos petistas é de que, pela austeridade, ele "jogue fora a criança com a água do banho", cortando programas sociais.
Reunidos em Fortaleza nos últimos dois dias, dirigentes do PT disseram, a portas fechadas, que não vão aceitar a imposição, por parte de Levy, de uma "agenda dos derrotados", numa referência ao "choque de gestão" defendido pelo senador Aécio Neves (MG), então candidato do PSDB. Em público, porém, os petistas combinaram um discurso para avalizar a escolha do novo ministro.
Dilma vai manter sob controle do PT pastas que são caras ao partido, como Saúde e Desenvolvimento Agrário, mas não admitirá que dirigentes petistas "apitem" na economia.
Ao anunciar Levy na Fazenda, Nelson Barbosa no comando do Planejamento e a continuidade de Alexandre Tombini na presidência do Banco Central, Dilma agiu com precisão cirúrgica para pacificar o mercado e se reaproximar de empresários e investidores. Tudo foi feito para reduzir o clima de incerteza, agravado após a Lava Jato.
"Temos que ganhar o jogo na escalação, antes de o time entrar em campo", disse o senador Delcídio Amaral (PT-MS), ex-diretor da Petrobrás. "O governo foi obrigado a emitir sinais antecipados para que todos sintam que a mudança é para valer."
Em recente conversa com senadores do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou acalmar os ânimos dos correligionários, que não escondem a insatisfação com o estilo de Dilma, avesso aos rituais da política. "Vocês podem não acreditar, mas ela vai mudar", garantiu.
Diante do fracasso da nova matriz econômica levada a cabo pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, Dilma tem no radar as mudanças na política fiscal, o monitoramento da inflação e as alterações na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), ainda não aprovadas pelo Congresso, que liberam o governo de fazer superávit primário - a poupança para pagamento dos juros da dívida.
Está muito preocupada, no entanto, com os desdobramentos da Lava Jato sobre a política e as concessões em infraestrutura que, se não saírem do papel, derrubam a perspectiva de arrecadação do governo em 2015.
Risco. "Isso certamente atrapalha os investimentos", admitiu o empresário Jorge Gerdau, presidente da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade - órgão vinculado ao Ministério da Casa Civil -, numa alusão às ações da Polícia Federal que escancararam os desvios de recursos na Petrobrás para a distribuição de propinas entre políticos.
Após o escândalo que levou à prisão chefes de grandes empreiteiras, a companhia também precisará "recriar" condições para investir em obras.
"As coisas têm que andar bem. Não se pode ter problemas importantes como estamos tendo, que afetem em menor ou maior escala o Congresso e a economia. O mercado financeiro tem muitas opções no mundo e vai se alocar onde o risco e a rentabilidade se conjugam da melhor forma", argumentou Gerdau, que preside o Conselho de Administração do Grupo Gerdau.
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