quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Dilma articula reação a falas do chefe do Ministério Público

• Rodrigo Janot irritou presidente ao sugerir substituições na atual direção da Petrobrás

Tânia Monteiro e Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma Rousseff classificou como "um escândalo", segundo assessores diretos, a manifestação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para quem a diretoria da Petrobrás, comandada por Graça Foster, deve ser afastada. Dilma fez o comentário, ontem, em conversa reservada com auxiliares, após tomar conhecimento das declarações de Janot.

O que mais "irritou" Dilma, nas palavras desses assessores, foi o tom de cobrança de Janot ao governo, quando ele sugeriu a substituição da atual diretoria da Petrobrás, sob o argumento de que o Brasil está "convulsionado" com o escândalo na empresa estatal.

Para o chefe do Ministério Público Federal, a corrupção consome a Petrobrás "como um incêndio de largas proporções", que corrói "as riquezas da Nação".

Dilma não pretende afastar Graça Foster, de quem é próxima, da presidência da companhia, ao menos por enquanto. Sabe que, dependendo das circunstâncias, poderá ser obrigada a fazê-lo, mas tem dito a auxiliares que não agirá sob pressão como a imposta pelo chefe do Ministério Público ontem.

Na avaliação de Dilma, feita a portas fechadas, Janot fez um julgamento político ao se referir aos "malfeitos" na Petrobrás. Foi por isso que ela escalou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para dar uma entrevista rebatendo as duras críticas do procurador-geral da República à gestão da companhia estatal. Dilma também não gostou de ver Janot se referir ao Brasil como um país "extremamente corrupto", que ocupa a 69.ª posição no ranking mundial de corrupção da Anistia Internacional.

Cardozo, que estava ao lado de Janot na Conferência Internacional de Combate à Corrupção, primeiro apenas esboçou uma reação. O ministro afirmou que a diretoria atual da Petrobrás tem colaborado para que tudo seja desvendado e que a tarefa do governo é apurar a corrupção na Petrobrás e punir os responsáveis, para que a empresa possa seguir seu rumo. A manifestação foi considerada insuficiente pelo Planalto, o que obrigou Cardozo a convocar uma coletiva de imprensa para o início da tarde, a fim de rebater mais uma vez o procurador.

Em reunião com dirigentes de centrais sindicais, na segunda-feira passada, a presidente disse que não se pode confundir a Petrobrás com a corrupção na empresa.

Dilma admitiu, porém, estar preocupada com o emprego, com o pagamento de salários aos funcionários das empreiteiras que tiveram os nomes envolvidos no esquema de desvio de recursos da companhia e com a contratação de novas obras.

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