quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Procurador defende demissão da cúpula da Petrobras

'Assaltaram a Petrobras'

• Procurador-Geral vê "incêndio de grandes proporções" na estatal e pede demissão da atual diretoria

Chico de Gois e Eduardo Bresciani – O Globo

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, defendeu ontem a demissão de toda a atual diretoria da Petrobras. Num duro recado aos envolvidos no escândalo de corrupção na estatal, Janot defendeu a prisão de corruptos e corruptores, o confisco de valores e bens desviados, e disse que a culpa pelo escândalo que envergonha o país não é do Ministério Público, mas de maus dirigentes. Ao participar da abertura da Conferência Internacional de Combate à Corrupção, ao lado do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o procurador disse que "assaltaram a Petrobras", e ainda classificou as denúncias de corrupção na estatal como um "incêndio de grandes proporções":

- É necessário maior rigor e transparência na sua forma de atuar (Petrobras). Esperam-se as reformulações cabíveis, inclusive, sem expiar ou imputar previamente culpa, a substituição de sua diretoria.

O procurador observou que durante anos o país viveu o que ele classificou de "fetiche do sigilo e cultura da autoridade" o que, em sua visão, contribuíram para dar o tom das relações entre agentes públicos e a sociedade civil. Ele lembrou que o Brasil ainda é um país extremamente corrupto, ocupando uma posição no ranking internacional que envergonha a população. Mas disse que o Ministério Público tem agido para tentar reverter essa situação.

- Corruptos e corruptores precisam conhecer o cárcere e devolver ganhos espúrios que engordaram suas contas às custas da esqualidez do Tesouro Nacional e do bem-estar do povo - discursou.

"Ajustes espúrios"
Ele recusou uma delação premiada de representantes de construtoras acusadas de irregularidades com a Petrobras porque, conforme declarou recentemente em entrevista, não aceitaram admitir a culpa nas transações. Janot afirmou que a culpa pela corrupção é de maus dirigentes e empresários:

- Isso não é culpa do Ministério Público, mas de maus dirigentes que se associam a maus empresários em odiosas atuações montadas para pilhar continuamente as riquezas nacionais.

De acordo com Janot, o Ministério Público está atuando para não deixar ninguém impune:

- Ninguém se beneficiará de ajustes espúrios. Isso todos temos de ter certeza. A resposta para aqueles que assaltaram a Petrobras será firme. A decisão é ir fundo nas responsabilizações civil e criminal.

O ministro da Justiça, que estava na mesa com Janot, em discurso antes do procurador avaliou que a percepção maior da população sobre a corrupção se deve, contraditoriamente, às ações para combatê-la.

- A corrupção é um crime que ocorre nos subterrâneos. Ela é um crime oculto. Para conhecê-la é necessário evidenciá-la e colocá-la sob a luz do sol. Quando as medidas que são tomadas para combater a corrupção surtem seus efeitos, a luz do sol é colocada sobre a realidade que estava antes na sombra e a percepção social da corrupção aumenta. Isso traz uma saudável contradição - disse o ministro.

Cardozo admitiu que há fortes indícios de corrupção na Petrobras. Mas, segundo ele, a tarefa do governo é punir e afastar quem cometeu irregularidades. Ele não quis comentar, no entanto, a revelação de que o ex-ministro José Dirceu manteve contrato com a Camargo Corrêa:

- Não vou prejulgar absolutamente nada. Tudo deve ser apurado nos termos da lei.

O ministro também disse que, ao se referir a maus governos, o procurador-geral da República não estava, necessariamente, falando da presidente Dilma Rousseff:

- O procurador falou dos governos e acho que quando fala dos governos todos aqueles que não tiveram, historicamente, uma postura de apurar o que tinha que ser apurado, obviamente podem ficar incomodados. Um governo como de Dilma Rousseff, que tem postura firme de apuração, que não se intimida com quaisquer fatos que possam ensejar as investigações, não se sente incomodado, mas, ao contrário, apoia as investigações.

Entrevista coletiva por ordem de Dilma
À tarde, depois de receber um telefonema da presidente Dilma, o ministro da Justiça convocou uma entrevista para rebater Janot. Ele afirmou que não há razão para substituir a atual diretoria da Petrobras, conforme sugeriu o procurador-geral. Cardozo fez elogios à presidente da estatal, Graça Foster, e aos demais diretores. Afirmou que a empresa tem tomado medidas de combate à corrupção e escolherá até sexta-feira o diretor de Governança.

- A posição do governo é de que não há nenhuma razão objetiva para que os atuais gestores da Petrobras sejam afastados do comando da empresa - afirmou o ministro.

Cardozo também listou medidas tomadas pela companhia para combater a corrupção. Citou as comissões de apuração interna, a criação da diretoria de Governança e a colaboração com as investigações. Afirmou que Graça segue as determinações da presidente Dilma. Cardozo contou ter conversado com Janot e que este disse que não há nenhuma nova informação que ateste o envolvimento dos atuais diretores. O ministro da Justiça negou ter falado com Dilma sobre o assunto.

Cardozo foi questionado se a declaração se estendia a Sérgio Machado, presidente da Transpetro, que está afastado. O ministro disse que se referia apenas à diretoria da Petrobras, que foi alvo do comentário de Janot.

Modelar
É EXEMPLAR o vínculo formal entre o mensaleiro condenado e prócer petista José Dirceu com a Camargo Corrêa, uma das empreiteiras do petrolão.

CONFIRMA O tipo de "consultoria" que certos homens públicos prestam quando saem do governo e deixam companheiros em altos postos no Executivo e em estatais.

NÃO PODERIA ser mais didático. O cacife de "consultor" do ex-ministro de Lula era tão valioso que ele foi contratado mesmo quando já estava arrolado como mensaleiro.

MAS FAZ sentido, pois o próprio diretório nacional do PT o aplaude até hoje. Sinal das boas amizades mantidas na área pública e que se convertem em cifrões embolsados em lobbies nada éticos.

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