- Folha de S. Paulo
O afã de se promover às custas de qualquer obra pública tem levado algumas autoridades brasileiras a flertar com o ridículo.
Em Brasília, os servidores do Senado ganharam há três anos um novo refeitório para o almoço. Entre uma garfada e outra, uma placa na parede não os deixa esquecer: o espaço foi inaugurado na gestão do ex-presidente José Sarney.
No Rio, quem frequenta a Lagoa Rodrigo de Freitas se depara desde o ano passado com um "banco panorâmico" decorado com pastilhas coloridas. Só há espaço para poucas pessoas se sentarem, mas foi o suficiente para que o município instalasse um letreiro com o nome do prefeito Eduardo Paes.
A desfaçatez dos políticos para falar de si mesmos não é novidade. O que espanta é que em pleno século 21 eles ainda teimem em espalhar seus nomes em placas e pedras fundamentais, mesmo que a obra a ser exaltada seja um mero banco de praça ou um bandejão.
Se prestar atenção, o leitor vai encontrar outros exemplos perto de casa. As placas estão por toda parte: viadutos, calçadas, estações de metrô. São pagas com o dinheiro de todos, o dinheiro dos impostos.
"Os governantes 'autografam' qualquer cômodo que mandam reformar, e não se envergonham disso", observa Eugênio Bucci em seu novo livro, "O Estado de Narciso".
O professor compara esses políticos a adolescentes que levam um canivete no bolso para gravar o apelido em bancos de madeira.
"Os ocupantes de cargos públicos rabiscam seus nomes e sobrenomes em todo lugar. Não percebem que fazer placa oficial com o próprio nome é uma forma legalizada de pichar o espaço público", critica.
Além do desperdício com placas e letrinhas, está em jogo um princípio constitucional: o da impessoalidade. Numa democracia, o que é feito pela administração pública deve pertencer ao público --e não aos administradores de plantão.
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