Debate sobre impeachment reaviva diferenças no PSDB
Cátia Seabra – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O debate sobre a conveniência de um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff reavivou antigas diferenças na cúpula do PSDB e fez os principais líderes do partido discordarem publicamente sobre a melhor estratégia para os tucanos.
No sábado (18), o senador José Serra (PSDB-SP) cobrou responsabilidade dos partidos de oposição e afirmou que "impeachment não é programa de governo de ninguém".
"Impeachment é quando se constata uma irregularidade que, do ponto de vista legal, pode dar razão a interromper um mandato. Acho que essa questão ainda não está posta", disse, durante palestra na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
No dia seguinte, domingo (19), foi a vez de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reafirmar sua posição contrária ao pedido de impeachment, classificando o debate em curso como precipitado.
"Como um partido pode pedir impeachment antes de ter um fato concreto? Não pode", disse FHC, que participou de um seminário ao lado de outros ex-presidentes latino-americanos no Fórum de Comandatuba, no Sul da Bahia.
Serra e Fernando Henrique foram em direção oposta à do presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG). Na quinta (16), Aécio afirmou que o partido pedirá o impeachment se ficar comprovada a participação de Dilma nas chamadas "pedaladas fiscais", manobras feitas com recursos dos bancos públicos para arrumar as contas do governo.
Como presidente do PSDB, Aécio detém o controle da máquina partidária, mas seu grupo político não comanda governos estaduais. Após 12 anos no poder em Minas Gerais, os tucanos perderam o governo do Estado para o PT nas eleições do ano passado.
Aécio, que perdeu para Dilma a última eleição presidencial, teme que o tempo dilua o capital político que ele conquistou na disputa e com isso lhe tire o comando do PSDB nas eleições partidárias previstas para 2018.
Aliados calculam que Aécio seria, neste momento, o maior beneficiário de um processo de impeachment, já que a corrida à Presidência terminou há menos de seis meses.
Mas interlocutores de FHC dizem que o ex-presidente discorda dessa tese. Para Fernando Henrique, nada indica que o PSDB seria o beneficiário do afastamento de Dilma.
Na opinião de FHC, o PMDB é que sairia fortalecido se houvesse impeachment. E, com os peemedebistas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antecessor e padrinho político de Dilma.
Tucanos acham que atualmente Lula tem mais apoio no PMDB do que em seu próprio partido, o PT. E ressaltam que o PMDB estará à frente do país em caso de impeachment. O vice-presidente Michel Temer é do partido, que também preside as duas casas do Congresso Nacional.
Para aliados do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, é melhor esperar. O impeachment hoje prejudicaria o projeto político de Alckmin, que sonha com uma nova candidatura à Presidência.
Os tucanos lembram que o Estado de São Paulo foi palco das maiores manifestações realizadas contra o PT neste ano, o que fortalece Alckmin. E afirmam que a estratégia do governador é ganhar tempo para conquistar o controle do partido. A cada dia que passa, dizem, o poder de Aécio definha em Minas Geral e Alckmin ganha força em São Paulo.
"Um pedido de impeachment requer uma situação extrema", afirma o ex-governador Alberto Goldman (PSDB-SP). "O PSDB tem o dever de propor o impeachment caso os requisitos forem atendidos. Apelo popular já existe", diz o vice-presidente do partido, senador Álvaro Dias (PR).
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