• Desgastado, partido se confronta com o seu DNA
Maiá Menezes – O Globo
Duas cenas retrataram ontem um dilema que os petistas, há 12 anos no poder, resistem em equacionar. Ser ou não ser governo, com todos os ônus que as escolhas carregam?
Cena 1: o PMDB, indignado, cobra posição do PT em favor da aprovação do ajuste fiscal, projeto-pilar do segundo mandato de Dilma Rousseff. O partido da presidente vinha se manifestando contra o ajuste e, ontem, se tornou um obstáculo delicado de transpor na condução do projeto nas casas legislativas. O PT age como se governo não fosse.
Cena 2: diante do panelaço, feito contra o programa de TV do PT sem Dilma, o ministro Edinho Silva devolveu a seu partido o ônus. Disse que quem tem que responder pelo protesto é o PT. É o governo agindo como se PT não fosse.
Os panelaços ganharam forma a partir de discursos de Dilma. O silêncio da presidente no 1º de Maio a poupou de outra reação. Ao evitar o programa de TV, no entanto, ela não conseguiu fugir do barulho. A insatisfação contra o governo encarna com nitidez a reação contra o partido que está no governo pelo quarto mandato consecutivo. E contra Lula, a estrela decana. Longevo no poder, o partido, com a agenda pró-arrocho e os protestos, se confronta com seu DNA.
Chamuscado até a raiz no mensalão e atingido novamente na Lava-Jato, o partido agora enfrenta outro revés, desta vez ideológico: a dificuldade em encontrar discurso para lastrear as decisões econômicas da gestão Dilma, muitas na contramão de bandeiras históricas da esquerda. Já o governo, enquanto se esforça para domar seu partido tenta se distanciar do que lhe faz mal no PT. Com o PMDB de capataz. Hora do divã.
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