quinta-feira, 7 de maio de 2015

Governo e oposição registram traições

• Maior percentual de votos contrários ao ajuste entre siglas da base veio do PDT, que tem o Ministério do Trabalho

• No DEM, que defendia a derrubada da medida, 8 dos 22 deputados votaram a favor da aprovação do ajuste

Ranier Bragon, Valdo Cruz e Sofia Fernandes – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - "Nem o Papa tem 100% de apoio", ironizou o deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, ao comentar as traições generalizadas nos partidos da base --o que ameaça a aprovação dos pontos restantes do pacote de ajuste econômico.

Proporcionalmente, as principais defecções governistas ocorreram no PDT --que ocupa o ministério do Trabalho, com Manoel Dias--, que concedeu todos os seus 19 votos contra o projeto da presidente Dilma Rousseff, no PTB (12 dos 24 votos) e no PP (18 dos 39 votos).

"Houve insatisfação com o governo, claro, mas defendíamos o adiamento da votação, a bancada não estava pronta para votar", afirmou o líder do PP, Eduardo da Fonte (PE). Ele negou que a insatisfação tenha a ver com o atraso da entrega de cargos ao partido.

"Parte da bancada ficou com o governo, mas preferimos ficar com o estatuto do partido, de defesa do trabalhador", afirmou a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ).

O PMDB, que ameaçou abandonar a defesa do projeto a depender da posição que a bancada petista tomasse, registrou 13 traições no total de 64 votos. "Foi o que esperávamos. Agora o governo tem que continuar conversando para evitar derrotas daqui para frente. Tem que ver esses dez do PT que não votaram, por exemplo", afirmou o líder do partido, Leonardo Picciani (RJ).

No partido de Dilma, nove deputados da bancada não compareceram à votação. Dos 55 presentes, somente Weliton Prado (MG), deputado de pouca expressão na bancada, votou contra o governo. A Folha não conseguiu falar com ele na noite desta quarta-feira (6).

Oposição
Com exceção do PSDB, que votou unido contra Dilma --todos os representantes do partido foram contrários ao projeto--, a oposição também registrou traições.

A mais inusitada aconteceu com o DEM, sigla que faz ataques ferrenhos ao governo e ao ajuste fiscal. Oito integrantes da bancada, de um total de 22 que votaram, apoiaram a proposta de ajuste fiscal do governo. Entre eles os deputados Rodrigo Maia (RJ) e José Carlos Aleluia (BA), dois dos principais críticos do Palácio do Planalto.

"Houve nesse grupo uma razão mais ideológica, na linha de corrigir imperfeições na atual política", afirmou o líder da bancada do partido, Mendonça Filho (PE), para justificar a posição adotada por seus correligionários.

A Folha apurou que o grupo de infiéis do DEM se reuniu com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), em uma articulação que contou com o apoio do prefeito de Salvador, ACM Neto, que é do partido.

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