Camilla Veras Mota e Robson Sales - Valor Econômico
SÃO PAULO e RIO - A queda forte nos rendimentos em maio mostrada pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) reforça o diagnóstico de que o mercado doméstico deve jogar contra a atividade neste ano - e possivelmente em 2016. No mês passado, a renda média real registrou a maior queda desde janeiro de 2004, de 5% sobre o mesmo período de 2014. Após reduções de 3% e de 2,9% em março e abril, nessa ordem, os salários já acumulam perda de 2% neste ano, no confronto com igual intervalo do ano passado. Em 12 meses, a média desacelerou de 2,5% em janeiro para 0,6%.
Com a retração de 0,7% na ocupação no mês passado, a massa salarial habitualmente recebida caiu 5,8% sobre maio de 2014 e levou o volume de recursos disponível para o consumo ao patamar de julho de 2012 - R$ 48,9 bilhões, de acordo com a série da Rosenberg Associados já corrigida pela inflação do período.
A taxa de desemprego, por sua vez, passou de 6,4% em abril para 6,7%. A diferença para o percentual registrado no mesmo período de 2014, de 1,8 ponto, é a maior nessa comparação desde o início do ano. Para bancos e instituições financeiras, o desemprego médio em 2015 será pelo menos 1,5 ponto maior que no ano passado - e continuará subindo em 2016.
A deterioração das condições do mercado de trabalho aparece disseminada entre os setores e as regiões do país, ressalta Rodolfo Margato, do Santander. Em maio, o desemprego aumentou em todas as seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Indústria e construção civil reduziram o volume de trabalhadores em 3,1% e 1,3%, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado. Os serviços prestados a empresas diminuíram o quadro em 0,3% e educação e saúde, em 1,7%. Os únicos segmentos que apuraram aumento na ocupação em maio, sempre no confronto com igual intervalo de 2014, foram os serviços domésticos, com alta de 2,6%, e o comércio, que elevou o nível de emprego em 1%.
Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, chama atenção para a retração também disseminada dos rendimentos, que atingiu todos os setores, com exceção dos serviços domésticos, e todas as categorias de trabalho. Sob esse ângulo, o emprego por conta própria foi o que sofreu maior perda no mês passado, caindo 6% sobre maio de 2014. "Mesmo quem passou a buscar alternativas para complementar o orçamento está vendo a renda encolher", diz o economista. A remuneração do emprego com carteira assinada diminuiu 4,3%, na mesma comparação. A dos sem carteira recuou 2%.
A "forte distensão" do mercado de trabalho e o impacto negativo cada vez mais generalizado entre os setores é visível também no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), acrescenta Bacciotti. O registro apurou em maio destruição de vagas formais no setor de serviços pelo segundo mês consecutivo, algo que não acontecia desde 1992.
Esse espraiamento, aliado às incertezas em relação à retomada da atividade, deve tornar a recuperação dos indicadores de emprego "bastante lenta", pondera Margato, do Santander. "Os fundamentos do consumo e dos investimentos não mostram uma recuperação no curto prazo. O ciclo de aperto monetário continua, o crédito está cada vez mais caro e escasso e a renda continua surpreendendo negativamente", diz o economista, justificando sua projeção de queda de 1% no consumo das famílias neste ano.
Nas contas do banco, a renda média e a massa salarial devem encolher 2,5% e 3,5% em termos reais neste ano, respectivamente. A taxa de desemprego está projetada em 6,6% em 2015 e deve subir a 8% no próximo ano. Para a Tendências, o indicador também segue piorando até 2016, passando de 6,3% para 7% na média do próximo ano.
Diante das possibilidades cada vez mais remotas de uma contribuição positiva do mercado de consumo doméstico para a atividade, pondera o economista da Tendências, as exportações ganham cada vez mais relevância como o caminho mais provável para a recuperação da economia no médio prazo.
Para Adriana Beringuy, técnica da coordenação de trabalho e rendimento do IBGE, a queda na renda é o grande impulso que tem levado cada vez mais pessoas a procurar por uma vaga - movimento que, junto do aumento das demissões, pressiona a taxa de desemprego. Em maio, a população economicamente ativa (PEA) cresceu 1,2%, a maior alta de 2015. No ano passado, a PEA caiu 0,7% e deu contribuição importante para manter o desemprego médio em 4,8%, entre as mínimas históricas.
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