No país da piada pronta, a presidente Dilma Rousseff, em seu mais recente ato desesperado para agradar ao PMDB e salvar seu mandato, trouxe para seu Ministério o dono de um self-service chamado "Barganha", vizinho do bar "Sacana’s", que a outro pertence. Trata-se do deputado Celso Pansera (PMDB-RJ), que, com essa sua experiência de restaurateur na Baixada Fluminense, será ministro de Ciência e Tecnologia.
Eis ao que se reduziu o governo de Dilma: já não é mais o caso de perguntar que qualificações se deve ter para ocupar um Ministério, e sim quantos votos o futuro ministro pode garantir para impedir que prospere um processo de impeachment. Foi a isso que, no discurso em que anunciou seus novos ministros, Dilma deu o nome de "governabilidade".
A divulgação da dita "reforma administrativa" coroou semanas de intensas negociações entre Dilma e uma parte do PMDB, com participação direta e decisiva do mentor da presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Nessa articulação, Dilma preservou apenas a placa com seu nome na porta do gabinete presidencial. Todo o resto ficará nas mãos de Lula e do PMDB. Inaugura-se no lamaçal brasiliense uma nova modalidade política: o governo em comodato.
Bem que Dilma tentou demonstrar alguma firmeza de propósitos para uma plateia que sabia estar diante de um abantesma. Ao dar detalhes da tal reforma, a presidente caprichou na megalomania ao afirmar que buscará transformar o Estado brasileiro em um "Estado moderno", a exemplo do que fizeram "todas as nações que atingiram o desenvolvimento". Sem nenhuma conexão com a situação precária de seu governo e de si mesma, Dilma se comprometeu a fazer com que a administração federal seja "ágil, eficiente, baseada no profissionalismo, na meritocracia".
É impossível pensar em palavras menos adequadas do que "profissionalismo" e "meritocracia" para explicar uma reforma ministerial que rateia pastas importantes entre políticos do segundo escalão da Câmara – no currículo do já citado Pansera se destaca a acusação de ser pau-mandado" do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), enquanto a Saúde ficará a cargo do deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), ligado ao líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ).
A presidente nem mesmo conseguiu cumprir a promessa de extinguir dez Ministérios, feita em agosto, como parte de uma agenda de "austeridade". Na conta de Dilma, sua equipe terá apenas oito pastas a menos, pois ela desistiu de acabar com o status ministerial dos titulares do Banco Central e da Advocacia-Geral da União e sucumbiu à pressão de PT e PMDB pela manutenção de pastas de seu interesse.
Além disso, é exigir demais da boa-fé alheia dizer que o anunciado corte de 3 mil cargos comissionados – um pingo d’água no oceano de 23 mil vagas para os apaniguados da Presidência – terá algum efeito na almejada redução dos gastos do governo. Na mesma linha, a anunciada redução de 10% nos salários dos ministros e da presidente, além do corte de gastos com água, luz e telefone, com passagens aéreas e diárias e com o uso de automóveis oficiais, só serve para fazer praça de uma "austeridade" para um governo que, não contente em arruinar as contas públicas, desorganizou a economia nacional.
Mas a presidente petista não parece interessada em respeitar a inteligência alheia. Seu único objetivo é sobreviver. Por isso, ela deu ao PMDB nada menos que sete pastas em seu novo Ministério, alegando que, com isso, pretende "consolidar a base política buscando uma maioria que amplie nossa governabilidade", tornando a coalizão de governo "mais equilibrada".
Também faz parte dessa estratégia desesperada de Dilma aceitar que, na sala ao lado da sua, na poderosa Casa Civil, atue o petista Jaques Wagner, homem da estrita confiança de Lula. Assim, a insistência de Dilma em dizer que se trata de uma "ação legítima", feita "às claras", apenas acrescenta insulto à injúria, pois o País todo já sabe que a reforma ministerial resultou do formidável contubérnio entre Lula e a fina flor do fisiologismo, com o objetivo de enfrentar a tempestade política e judicial que se avizinha.
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