O ano que chega deve ser melhor que o péssimo 2016, quando os efeitos da mais longa recessão da história republicana e da explosão da crise política se fizeram sentir plenamente. A recessão deve se dissipar lentamente ao longo de 2017, que terminará com crescimento pequeno, mas, afinal, crescimento. Não será fácil deixar para trás uma crise em tudo diferente das outras do passado e seu legado de expansão econômica bem abaixo do potencial.
As diferenças em relação às tempestades anteriores ditarão o timing da recuperação, bem mais vagarosa. Não houve explosão da inflação nem um colapso do setor externo, mas, após mais de uma década de crescimento rápido do crédito, a recessão encontrou empresas e consumidores mais endividados do que nunca antes, ainda que em padrões ainda modestos, se comparados aos de países desenvolvidos. Um enorme escândalo de corrupção abriu uma cratera no sistema político e desvendou um modus operandi que, com nuances, vem desde a ditadura militar, pelo menos: a relação de compra e venda entre empresas e parlamentares, no qual ocorreu de tudo, em vasta escala: compra de votos para aprovação de projetos de interesses particulares, caixa 2 para campanhas eleitorais e roubalheira pura e simples. A Operação Lava-Jato coleciona suspeitos que vão do círculo íntimo do presidente Michel Temer - ele próprio citado nos depoimentos - a lideranças dos principais partidos.
A continuidade do governo está ameaçada de morte pelas investigações de corrupção, enquanto que ele conseguiu arregimentar uma base de apoio político que até agora lhe permitiu no front econômico tomar medidas ousadas para um governo interino e impopular. A aprovação da PEC dos gastos abre um horizonte, ainda que longo, para estancar a grave crise fiscal do Estado, e a reforma da Previdência, se aprovada em seu núcleo, ajudará a conter os gastos e desarmar uma bomba nos orçamentos públicos.
Em 2017, o déficit público ainda chegará aos R$ 139 bilhões, um pouco menor que os R$ 170 bilhões previstos para 2016. A arrecadação tende a melhorar - as quedas reais em doze meses são cada vez menores - ainda que o PIB não deva crescer acima de 1%. A novidade que pode surgir é um aumento de impostos para garantir o cumprimento da meta fiscal, caso as receitas não se recomponham no ritmo esperado.
Outras peças do jogo econômico, porém, estão agora bem encaixadas - o que não ocorreu em boa parte de 2016, o ano do impeachment de Dilma Rousseff. O Banco Central conseguiu domar a inflação e ancorá-la, o que permitirá quedas mais seguras e intensas dos juros, algo especialmente importante para o componente alavancagem da crise. A queda da inflação começou a reduzir as perdas de poder de compra dos salários, um passo inicial necessário para a volta dos consumidores às lojas. O setor externo da economia ganhou fôlego com superávit comercial perto de US$ 45 bilhões, montante que poderá ser quase igualado em 2017 com o avanço observado nos preços das commodities. E, o que é importante, os investimentos externos diretos, mesmo durante a fase aguda da crise, não cederam.
Há fatores limitantes riscos. Entre os primeiros, estão os investimentos, que demorarão a reagir. Haverá em 2017 impulsos, ainda que modestos, do consumo, que sairá de uma queda de 4,2% no 3º trimestre de 2016 para 0,4% de expansão no último de 2017, pelas previsões do BC. A formação bruta de capital fixo pulará de -10,5% para 0,5% e o consumo do governo dará pequena contribuição com 0,5 ponto percentual. O fim de um período tenebroso deverá ficar claro mais na metade do ano em diante do que em seu começo.
Grandes ameaças vêm do campo político, da Lava-Jato e do cenário externo. É impossível acelerar responsavelmente a economia e até o fim de 2017 ela não chancelará intenções de nenhum candidato à Presidência oficialista e tampouco enterrará esta possibilidade. Com isso, a chance de rebeliões da base governista contra Temer tendem a ser amortecidas, ao mesmo tempo em que a aposta do governo Temer no gradualismo, que lhe tem permitido navegar em meio a intempéries, será ratificada.
No cenário externo, há um acúmulo de riscos geopolíticos e econômicos, todos se formando em torno de Donald Trump. Trump promete que 2017 poderá ser tudo, menos monótono.
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