terça-feira, 2 de outubro de 2018

Lula sabia de esquema na Petrobrás, diz Palocci

O ex-ministro Antonio Palocci afirmou em depoimento à Polícia Federal, em abril, que o ex-presidente Lula sabia, desde 2007, do esquema de corrupção da Petrobrás descoberto pela Operação Lava Jato. No termo de acordo de colaboração premiada, tornado público pelo juiz Sérgio Moro, Palocci detalha o suposto envolvimento de Lula com o loteamento de cargos na estatal feito para captar recursos ilícitos para campanhas do PT e de partidos aliados de 2003 a 2014, durante os governos Lula e Dilma Rousseff. Segundo Palocci, as campanhas presidenciais de Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, custaram R$ 1,4 bilhão. No TSE, foram declarados R$ 350 milhões. A defesa de Lula disse que a conduta de Moro “apenas reforça o caráter político dos processos e da condenação injusta”.

Palocci detalha elo de Lula com corrupção estatal

Em depoimento à PF, ex-ministro detalhou o loteamento de cargos e o esquema de arrecadação para campanhas de Dilma Rousseff

Fabio Leite, Fausto Macedo, Julia Affonso, Luiz Vassallo e RIcardo Brandt | O Estado de S. Paulo

O ex-ministro Antonio Palocci afirmou em depoimento à Polícia Federal que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia, desde 2007, do esquema de corrupção na Petrobrás desmantelado pela Operação Lava Jato. No primeiro termo tornado público de seu acordo de colaboração premiada – firmado com a Polícia Federal e homologado pelo desembargador João Pedro Gebran Neto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região –, Palocci acusa Lula de envolvimento com o loteamento de cargos na estatal de 2003 a 2014, durante sua gestão e a da presidente cassada Dilma Rousseff. O sigilo foi levantado pelo juiz Sérgio Moro em uma das ações penais da Lava Jato na qual Lula é réu.

Segundo o ex-ministro – que foi um dos mais poderosos auxiliares do ex-presidente –, a distribuição de diretorias da petrolífera tinha como objetivo captar recursos ilícitos para campanhas do PT e de partidos aliados. Conforme a delação, as campanhas presidenciais de Dilma em 2010 e 2014 custaram R$ 600 milhões e R$ 800 milhões, respectivamente. O valor somado supera em quase três vezes o oficialmente declarado ao Tribunal Superior Eleitoral – aproximadamente R$ 500 milhões nas duas disputas.

Palocci relatou ainda a “venda” de medidas provisórias nos governos petistas e implicou também o ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, atualmente coordenador da campanha de Fernando Haddad (PT) à Presidência da República.

O ex-ministro diz na colaboração que o presidente Michel Temer foi um dos emedebistas que indicaram Jorge Zelada, que está preso, para a diretoria da estatal. O Palácio do Planalto diz que a indicação foi do PMDB (atual MDB) de Minas. A defesa de Lula, o PT e Dilma afirmaram que Palocci mentiu. Gabrielli não se manifestou.

Ex-presidente sabia de esquema desde 2007, afirma delator
Lula, relata Palocci, o levou a ‘ambiente reservado’ no Palácio do Alvorada para dizer que tinha ciência dos fatos na estatal

No depoimento concedido por Antonio Palocci em 13 de abril na Superintendência Regional da Polícia Federal no Paraná, onde ele e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estão presos, o ex-ministro relata uma conversa que teve com o antigo chefe em fevereiro de 2007.

Segundo ele, o petista o levou a um “ambiente reservado” no primeiro andar do Palácio da Alvorada (residência oficial do presidente) para dizer, “bastante irritado”, que tinha tido ciência de que os então diretores da Petrobrás Renato Duque (Serviços) e Paulo Roberto Costa (Abastecimento) “estavam envolvidos em diversos crimes no âmbito das suas diretorias”.


De acordo com Palocci, Lula perguntou se aquilo era verdade, e o então deputado federal petista confirmou. O ex-presidente teria, então, indagado quem havia nomeado os diretores suspeitos. Segundo o depoimento, Palocci afirmou que ambos haviam sido indicados pelo próprio chefe de Estado e que “estavam agindo de acordo com parâmetros que já tinham sido definidos pelo próprio Partido dos Trabalhadores e pelo Partido Progressista”.

Conforme Palocci, Lula “agiu daquela forma” porque queria saber se o ex-ministro “aceitaria sua versão de que não sabia das práticas ilícitas que eram cometidas em ambas as diretorias”. Ainda de acordo com o depoimento, “era comum Lula, em ambientes restritos, reclamar e até esbravejar sobre assuntos ilícitos que chegavam a ele e que tinham ocorrido por sua decisão”, e que “a intenção de Lula era clara no sentido de testar os interlocutores sobre seu grau de conhecimento e o impacto de sua negativa”.

Palocci está preso desde setembro de 2016, alvo da Operação Omertà, desdobramento da Lava Jato. Ele foi condenado por Moro em uma primeira ação a 12 anos e dois meses de reclusão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Em abril deste ano, o ex-ministro dos governos Lula (Fazenda) e Dilma (Casa Civil) assinou um acordo de delação premiada com a PF, no qual aceitou devolver R$ 37,5 milhões e colaborar com as investigações em troca da redução de até 2/3 da pena privativa de liberdade. O acordo foi homologado em junho pelo desembargador João Pedro Gebran Neto, do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4).

O trecho da delação liberado pelo juiz Sérgio Moro está inserido nos autos de uma das ações penais na qual Lula é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na compra de um apartamento em São Bernardo do Campo e de um terreno supostamente destinado ao Instituto Lula pela Odebrecht por R$ 12,5 milhões. Moro levantou o sigilo do primeiro termo de colaboração de Palocci ontem alegando que não havia mais “riscos às investigações” com a publicidade do conteúdo.

Contas. Na delação, Palocci afirma que Dilma e José Sergio Gabrieli, ex-presidente da Petrobrás e um dos coordenadores da campanha de Fernando Haddad (PT) nesta eleição, sabiam do esquema na estatal de desvios de recursos para as campanhas petistas de 2010 e 2014 (mais informações na pág. A8) e diz que o PT usou laranjas para abrir conta e movimentar recursos ilícitos no exterior.

Segundo ele, “empresários abriam, apenas na confiança, contas em nome próprio e para utilização pelo PT”. Os recursos, conforme Palocci, foram controlados por ele, pelo ex-ministro Guido Mantega e ex-tesoureiros do PT, como João Vaccari. Em depoimento a Moro, em setembro de 2017, Palocci atribuiu a Lula um “pacto de sangue” de R$ 300 milhões entre Odebrecht e PT.

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