terça-feira, 2 de outubro de 2018

Palocci: eleições de Dilma custaram R$ 1,4 bilhão

Em delação premiada cujo sigilo foi quebrado pelo juiz Sergio Moro, o ex-ministro Antonio Palocci afirmou que as campanhas para eleger e reeleger Dilma Rousseff custaram R$ 1,4 bilhão, quase o triplo do que o PT havia declarado à Justiça Eleitoral. Palocci, que está preso desde 2016 e foi condenado em primeira instância por lavagem de dinheiro e corrupção passiva, disse que doações oficiais serviam para acertar pagamentos de propina e, sem detalhar, revelou a existência de esquema de venda de medidas provisórias no Congresso durante governos petistas. Em nota, defesa do ex-presidente Lula disse que Palocci “mentiu mais uma vez”.

Palocci: eleições de Dilma custaram R$ 1,4 bilhão

Em delação, ex-ministro afirma que gastos do PT nas campanhas de 2010 e 2014 foram quase o triplo do declarado; ele diz que avisou Lula sobre corrupção na Petrobras e vê propina na aprovação de 90% das MPs no Congresso

Aguirre Talento e Robson Bonin | O Globo

BRASÍLIA - O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci afirmou no primeiro anexo de sua delação premiada que as duas últimas campanhas presidenciais do PT para eleger Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, custaram, somadas, R$ 1,4 bilhão, mais do que o dobro dos valores declarados à Justiça Eleitoral. Segundo Palocci, as campanhas foram abastecidas com caixa dois. De acordo com o depoimento, os empresários contribuíam esperando benefícios em troca e, mesmo nas doações oficiais, a origem da maior parte do dinheiro eram acertos de propina.

O anexo se tornou público ontem, após decisão do juiz federal Sergio Moro, que determinou que o depoimento de Palocci fosse anexado a uma das ações penais em andamento contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual ele é acusado de receber propina da Odebrecht. O PT criticou a decisão de Moro a seis dias das eleições. Palocci atuou nas campanhas petistas como interlocutor do setor empresarial para a arrecadação financeira, daí seu conhecimento sobre o tema.

Sobre as duas campanhas de Dilma Rousseff, Palocci afirmou: “Pode citar que as campanhas presidenciais do PT custaram em 2010 e 2014, aproximadamente ,600 e 800 milhões de reais, respectivamente”. Nas prestações de contas oficiais, os valores oficialmente declarados de custo dessas campanhas foram de R $153 milhões e R $350 milhões, respectivamente.

O ex-ministro está preso preventivamente desde setembro de 2016. Ele já foi condenado em primeira instância a 12 anos e dois meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

CONTAS NO EXTERIOR
Segundo Palocci, a “ilicitude das campanhas” começava nos “preços elevadíssimos que custam”. “Ninguém dá dinheiro para as campanhas esperando relações triviais com o governo”, afirmou ele, que prossegue: “As prestações registradas no TSE são perfeitas do ponto de vista formal, mas acumulam ilicitudes em quase todos os recursos recebidos”.

Ainda de acordo com a delação, as doações oficiais serviam para quitar saldo de acertos de propinas em obras públicas, como na Petrobras:

“Grandes obras contratadas fora do período eleitoral faziam com que os empresários, nas eleições, combinassem com os diretores que o compromisso político da obra firmado anteriormente seria quitado com doações oficiais acertadas com os tesoureiros dos partidos, coligações, etc”.

Palocci afirmou ainda, sem dar detalhes, que havia um largo esquema de venda de medidas provisórias no Congresso durante os governos petistas, envolvendo tanto o Poder Executivo como o Legislativo. O ex-ministro “estima que das mil medidas provisórias editadas nos quatro governos do PT, em pelo menos novecentas houve tradução de emendas exóticas em propina”.

Questionado sobre contas no exterior do PT, Palocci afirmou que nunca abriu nenhuma conta para o partido, mas que “sabe que a agremiação já fez isso sem utilizar o nome do partido e lideranças, pelo menos segundo tem conhecimento o colaborador; que soube que empresários abriam, apenas na confiança, contas em nome próprio e para utilização pelo PT”.

Segundos eu relato, Lula teria lhe chamado para uma conversa no Palácio da Alvorada em fevereiro de 2007, pouco após sua reeleição, queixando-se ter ouvido falar que havia cometimento de crimes nas diretorias da Petrobras ligadas ao PP (Paulo Roberto Costa) e ao PT (Renato Duque).

Palocci afirmou em sua delação que respondeu ter sido ele, Lula, o responsável pelas nomeações, e que os diretores estariam agindo de acordo com os parâmetros definidos por seus partidos. Disse ainda que Lula buscava testar uma versão de defesa, simulando que não sabia do assunto.

AINDA SEM PROVAS
Ao comentara divisão entre partidos das diretorias da Petrobras, Palocci usa o PP como exemplo para dar a ideia de que o loteamento de cargos visava apenas aos desvios. Ele diz que “sabia muito bem por que houve a indicação pelo PP de um diretor”, uma vez que o partido aliado “não fez aquilo para desenvolver sua política junto à Petrobras, até porque nunca as teve” e que “a única política do P Pera ade arrecadar dinheiro”. O ex-ministro acrescenta que, apesar desse diálogo com Lula, o então presidente “não tomou medidas posteriores parati raros diretores dos cargos”.

Os outros termos da delação de Palocci, assinada com a Polícia Federal e homologada em junho pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, estão sob sigilo. Diversas acusações apresentadas por ele já eram conhecidas da Lava-Jato, mas o ex-ministro apresenta novas informações de bastidores. Neste depoimento, porém, Palocci ainda não apresenta provas e documentos que corroborem seu relato.

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