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Histórico de presidentes brasileiros em Davos desaconselha ter muitas esperanças
O presidente Jair Bolsonaro e as duas estrelas de primeira grandeza de seu governo, Paulo Guedes e Sérgio Moro, devem anunciar planos de impacto no 49º Fórum Econômico Mundial que acontece em Davos, Suíça, a partir da terça-feira. Uma pauta liberal, contemplando privatizações e reformas de fundo, como a da Previdência, combate à violência, ao crime organizado e à corrupção. São projetos que o Brasil anseia conhecer, já que deles só se sabem generalidades ditas durante a campanha e nada mais. Mas o histórico de presidentes brasileiros em Davos desaconselha ter muitas esperanças entre o dito por lá e o feito por aqui.
Em janeiro de 2003, o recém-empossado presidente Lula causou furor ao desembarcar em Davos levando debaixo do braço o Programa Fome Zero, que previa mobilizar a sociedade, em especial os mais ricos, no combate à miséria absoluta.
Lula brilhou antes e depois do encontro. Fez tudo conforme o figurino marqueteiro previa. Saiu do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, um encontro anti-Davos, e atravessou o Atlântico em avião de carreira – “por economia”, dizia -, correndo a Europa em jatos da Embraer, para “divulgar a fabricante nacional”. Provocou êxtase como o operário iletrado que chegara à Presidência – algo que o mundo rico adora aplaudir, expurgando culpas -, e reivindicou a autoria de um programa mundial contra a fome.
Resultado: o Fome Zero malogrou antes de aquele ano terminar e os voos em aviões comerciais foram substituídos pelo AeroLula, comprado em 2005, com o qual despendeu U$ 46,7 milhões, duas vezes o que investira em saneamento básico no ano anterior. E o “estadista global”, honraria concedida pelo Fórum em 2010, acabou condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro e cumpre pena em cela especial da Polícia Federal, em Curitiba.
Onze anos depois da estreia do petista em Davos, sua pupila Dilma Rousseff se comprometeu diante dos líderes mundiais com abertura ao capital privado, cumprimento de metas inflacionárias e responsabilidade fiscal. Estávamos em 2014, ano de Copa do Mundo e de gastos desenfreados, de voluntarismo em excesso e de campanha eleitoral, em que ela, confessadamente, “fez o diabo” para se reeleger.
Sem ter realizado absolutamente nada do que anunciara ao mundo, Dilma entrou em 2015 vitoriosa, mas preferiu não voltar ao Fórum. No ano seguinte foi cassada por pedaladas fiscais, tendo lançado o país na maior crise econômica de sua história, crescimento negativo e desemprego recorde. Anulou assim os ganhos sociais que a combinação dos estímulos ao consumo e do sucessor do fracassado Fome Zero, o Bolsa-Família, este custeado exclusivamente com recursos do Tesouro, tinham proporcionado.
Michel Temer também foi alvo do comichão das promessas vazias de Davos. Em 2018, já desgastado pelas denúncias de Joesley Batista e por negociações que teve de fazer com a Câmara dos Deputados para evitar ser processado, o peemedebista falou do êxito na aprovação do limite de gastos e da reforma trabalhista. E manteve o otimismo quanto ao futuro do projeto de seu governo para a Previdência. Puro jogo de cena. Todos e, claro, ele, sabiam da impossibilidade de vencer uma batalha desse tipo em ano eleitoral.
Bolsonaro, cujas posições xenófobas, mais próximas de Donald Trump (que desistiu de ir e até mesmo de mandar delegação dos Estados Unidos ao Fórum), tem a chance de mostrar ao Olimpo da globalização que está à altura do que o mundo espera do Brasil. E de apresentar projetos mais maduros para as grandes questões nacionais. Quem sabe até cumprindo aqui o que vai anunciar lá, exorcizando de vez a maldição de Davos.
*Mary Zaidan é jornalista.
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