sábado, 15 de junho de 2019

Moro orientou MPF a rebater defesa de Lula, diz site

Ministro afirma que mensagens podem ter sido adulteradas

Novas conversas atribuídas ao ministro Sergio Moro e a procuradores da Lava-Jato mostram o então juiz orientando o MPF a divulgar nota rebatendo declarações da defesa do ex-presidente Lula, segundo o site Intercept. Para Moro, mensagens podem ter sido adulteradas ou editadas.

Moro sugeriu nota contra defesa de Lula, diz site

The Intercept Brasil publica novos trechos de conversas atribuídas ao ministro e força-tarefa da Lava-Jato; Ex-juiz afirma que mensagens podem ter sido ‘adulteradas ou editadas’; procurador diz desconhecer diálogos

- O Globo

Novas conversas por mensagens privadas atribuídas ao ministro Sérgio Moro e procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato mostram que o então juiz do caso teria sugerido aos integrantes do Ministério Público Federal (MPF) emitir uma nota rebatendo a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os diálogos, divulgados pelo site “The Intercept Brasil”, ocorreram após o interrogatório do petista, em 10 de maio de 2017. Anota acabou sendo divulgada, mas com foco diferente do sugerido por Moro.

Pela primeira vez, há registro de uma conversa direta de Moro com o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. Nos diálogos anteriores, havia sempre a participação de Deltan Dallagnol, coordenador da Força-tarefa. Ao “The Intercept”, Moro afirmou que as mensagens podem ter sido “adulteradas ou editadas”. Santos Lima disse que não reconhece as mensagens.

Nas conversas, Moro disse para Santos Lima que os procuradores poderiam apontar contradições e que a defesa já teria feito “o showzinho dela”. Santos Lima responde ao então juiz que conversaria com os colegas da força-tarefa sobrea ideia. Dez minutos após o diálogo, ele conversa sobre a estratégia com um grupo de assessores de imprensa do MPF. Eles não recomendam a manifestação. Depois, discute o tema em no grupo “Filhos de Januário 1”, no qual outros procuradores se manifestam. Ao mesmo tempo, Santos Lima compartilha com Dallagnol a conversa com Moro.

POLÍCIA INVESTIGA HACKERS
O coordenador da Lava-Jato, então, responde no grupo do qual faz parte a forçatarefa que uma manifestação poderia “trazer conforto para o juízo”. Dallagnon defende que a manifestação fosse por meio de nota e questiona aos assessores de imprensa sobre o tema, recebendo opinião em sentido contrário. O chefe da força-tarefa também manda ele próprio uma mensagem a Moro na qual fala que está avaliando uma eventual manifestação. Moro diz ter dúvidas sobre a pertinência, mas afirma que “é de se pensar” a possibilidade.

A nota foi divulgada no dia seguinte, 11 de maio. De acordo com o site, na noite deste dia Dallagnol manda uma mensagem a Moro dizendo que a opção foi por focar a manifestação apenas nas informações falsas, ressaltando que contradições seriam exploradas na alegação final.

A assessoria de Moro enviou uma nota ao “The Intercept”: “O Ministro da Justiça e Segurança Pública não comentará supostas mensagens de autoridades públicas colhidas por meio de invasão criminosa de hacker seque podem ter sido adulteradas e editadas, especialmente sem análise prévia de autoridade independente que possa certificara sua integridade. No caso em questão, as supostas mensagens nem sequer foram enviadas previamente”.

O GLOBO procurou a assessoria de Moro, mas não houve resposta até o fechamento da edição.

O procurador Santos Lima diz que “desconhece completamente as mensagens citadas”. Em nota, afirma que o site deve uma explicação de como “teve acesso a esse material de origem criminosa, e quais foram as medidas que tomou para ter certeza de sua veracidade, integridade e ausência de manipulação”.

A Polícia Federal investiga ataques cibernéticos a celulares de procuradores da Lava-Jato, juízes, delegados, políticos e jornalistas.

Ontem, antes da divulgação dos novos diálogos, Moro disse que cometeu um “descuido formal” ao repassar, por meio do aplicativo Telegram, pistas a Deltan Dallagnol, em meio à investigação envolvendo o ex-presidente Lula. Moro disse que está dentro da “normalidade” um juiz repassar notícias-crime ao Ministério Público.

— Recebi aquela informação, e aí sim vamos dizer foi até um descuido meu, apenas passei pelo aplicativo — afirmou o ministro, após participar de um evento em Brasília.

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