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Pau que bate em Chico bate em Francisco
O ex-juiz Sérgio Moro, e seus parceiros no Ministério Público Federal, provam gota a gota do veneno que serviram aos alvos da Lava Jato – alguns deles como se viu depois apenas suspeitos de crimes, outros por fim presos e finalmente condenados.
Enquanto estiveram à frente da operação, Moro e procuradores vazaram informações para a imprensa mediante o anonimato. Se mais tarde elas em nada resultassem, salvo enfraquecer ou destruir reputações, eles não poderiam ser responsabilizados. E não foram.
O Site The Intercept Brasil divulga com pouco a pouco informações que recebeu de uma ou mais fontes anônimas que deixam Moro e seus parceiros em maus lençóis. Vale-se do mesmo método. Mas com uma extraordinária diferença: assina embaixo.
Se ao cabo as informações se revelaram falsas, o site e seus donos perderão de vez a credibilidade. E com toda a certeza serão processados e pagarão caro pelos danos provocados. Afinal, não se enxovalha a honra alheia impunemente.
Talvez tenha sido por isso que o jornalista americano Glenn Greenwald, editor do site, desabafou a uma amiga no início desta semana: “Eu não posso errar. Não posso.” Greenwald diz possuir três anos de conversas entre Moro, juízes e procuradores.
É bem possível que a essa altura ainda não saiba tudo o que tem. Mas à medida que sabe divulga o que acha de interesse público. Foi o que aconteceu mais uma vez ontem à noite, para aumentar a aflição e o desgaste de Moro e da sua turma.
No terceiro episódio da série, Moro pede ao procurador Carlos Fernando dos Santos Lima que rebata “o showzinho” dado por Lula e por sua defesa em 10 de maio de 2017. Naquele dia e pela primeira vez, Moro interrogou Lula no caso do tríplex do Guarujá.
“O que achou?” – pergunta Moro. Carlos Fernando responde: “Ficou muito bom. Ele [Lula] começou polarizando conosco, o que me deixou tranquilo.” Moro então observa: “A comunicação é complicada, pois a imprensa não é muito atenta a detalhes”.
Um minuto depois, Moro sugere ao procurador “editar uma nota esclarecendo as contradições do depoimento [de Lula] com o resto das provas ou com o depoimento anterior dele. Por que a defesa já fez o showzinho dela.” A nota sairia melhor do que encomenda.
Em mensagem a um grupo de colegas, o procurador Deltan Dallagnol orienta: seria preciso “1) trazer conforto para o juízo [Moro] e assumir o protagonismo para deixá-lo mais protegido e tirar ele um pouco do foco; 2) contrabalancear o show da defesa”.
Horas antes, ao abrir a audiência com Lula, Moro declarara: “Também vamos deixar claro que quem faz a acusação nesse processo é o Ministério Público, e não o juiz. Eu estou aqui para ouvi-lo e para proferir um julgamento ao final do processo”.
A lei manda que o juiz atue com isenção: sem tomar partido de nenhum dos lados, acusação ou defesa. Trata-se de um dos fundamentos do Direito desde os seus primórdios. Nada, mas nada mesmo justifica o comportamento parcial de um magistrado.
Quando saiu a primeira leva de documentos, Moro e Dallangnol não os puseram em dúvida. Depois passaram a dizer que não se lembravam de ter dito tudo o que os documentos lhes atribuem. Agora, dizem que eles foram obtidos ilegalmente. Estão acuados.
Há mais por vir, muito mais. Tão cedo terão sossego, se é que mais adiante poderão sossegar.
Falta a bala de prata
Até aqui, o ex-juiz Sérgio Moro sobrevive como ministro da Justiça e da Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro. E embora em queda nas pesquisas de opinião, deverá ganhar um novo fôlego com as manifestações de rua em seu favor convocadas para o próximo dia 30 por grupos que lhe são devotos.
Ou nos documentos armazenados pelo site The Intercept Brasil haverá uma bala de prata para atingi-lo em cheio ou acabará ficando tudo por isso mesmo. O que foi revelado poderá lhe tirar a chance de ser nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal, mas não a de tentar suceder a Bolsonaro.
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