- Folha de S. Paulo
Britânicos e italianos mostram como democracia deve parar delírios autoritários
Líderes populistas não gostam de conviver com instituições democráticas por uma razão simples: elas servem como anteparo à concentração de poderes nas mãos desses indivíduos. Num só dia, a Europa deu duas lições de como a saúde da política é crucial para evitar alguns delírios de autoritarismo.
A manobra de Boris Johnson para atar as mãos do Parlamento e forçar a saída do Reino Unido da União Europeia foi recebida com protestos nas ruas e até no partido do primeiro-ministro. A decisão de suspender parte do Legislativo por cinco semanas foi chamada de "profundamente antidemocrática" pelo ex-ministro conservador Phillip Hammond.
Eleito em julho, Johnson assumiu a missão de aplicar o brexit a qualquer custo. A interrupção do trabalho do Parlamento, sob pretexto de ganhar tempo para elaborar uma nova agenda para o país, é vista como uma virada de mesa violenta.
A ruptura com a União Europeia foi aprovada em plebiscito por um placar de 52% a 48%, mas não houve acordo entre os políticos sobre os parâmetros dessa saída. O primeiro-ministro argumenta que o Parlamento impediu os últimos governos de levarem a cabo a vontade popular.
Alguns políticos britânicos chamaram o movimento de Johnson de "tentativa de golpe". Agora, eles ameaçam aplicar um voto de desconfiança para derrubá-lo.
Também nesta quarta (28), a Itália deu uma resposta aos avanços de Matteo Salvini. O político de extrema-direita dissolveu uma aliança com o governo e pediu novas eleições para que a população lhe desse "plenos poderes". Dois partidos rivais fizeram um acordo, até então considerado improvável, para barrá-lo.
Muitos líderes tentam se vender como os únicos e mais fervorosos defensores do povo, escreveu o cientista político Yascha Mounk sobre o caso britânico. Eles agem para deslegitimar instituições que podem limitar seus poderes. "É por isso que populistas se voltam tantas vezes contra tradições democráticas duradouras", completou.
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