terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Alberto Aggio - Permanecem os dias de espanto

- Blog do Aggio

“Um Espanto”. Esse é o título da coluna de Eliane Cantanhêde, em 29 de novembro de 2019, no Estadão. A brilhante jornalista se espanta com tantos absurdos na gestão do governo Bolsonaro, especialmente no que se refere às nomeações e ao desempenho de personagens importantes do governo. Ela observa a ênfase de Bolsonaro nas nomeações e na orientação política dos seus subordinados, que seguem simplesmente a máxima: “sou de direita”. De onde se conclui: há uma troca de vetores ideológicos: da esquerda nos anos do petismo, para a direita no bolsonarismo. Pelas nomeações (que não vale a pena citá-las aqui), fica claro que Bolsonaro iludiu (e continua iludindo) a população ao dizer que seu governo seria formado de técnicos, afastando-se da ideologia.

Lamentavelmente, pode-se dizer que era isso que se esperava desde o momento em que, na eleição presidencial passada, chegamos ao embate entre Haddad e Bolsonaro, no segundo turno. Em 12 de outubro de 2018, eu concluía, no mesmo Estadão, um artigo intitulado “Dias de espanto”, da seguinte forma: “ Haddad não passa de um construto enganoso de Lula. Não representa nem une os democratas brasileiros. Bolsonaro é a regressão aos anos pré-democracia e uma ameaça iliberal evidente. Entre a catástrofe e o desastre, nossa frágil democracia terá de resistir para seguir respirando e ganhar sobrevida. É um momento difícil, no qual somente nos serve o “pessimismo da razão”. E o mais trágico é que não há nenhum locus facilmente reconhecível que vocalize algum “otimismo da vontade”. Atônitos, os brasileiros seguem os sinais de alerta buscando evitar, de alguma maneira, uma aproximação com a morte da democracia”.

O alerta permanece e sabemos que, em oposição a esse governo, o chamado “outro lado”, comandado por Lula não nos oferece alternativas seguras para nada. Pior: é visto pela maioria da população, não sem razão, como um “retorno” da corrupção. Quem vai querer estar com Lula daqui para frente, sem a autocrítica devida, que, parece, a depender dele, ficará relegada às calendas?

Na mesma linha, o artigo de hoje no Correio Braziliense, assinado pelo competente jornalista Luiz Carlos Azedo, joga luz no problema de termos um governo fixado em fazer a chamada “guerra cultural” pela via do embate identitário. O que se deduz, na atual conjuntura, é que o governo Bolsonaro carece de um eixo político claro para conduzir o país rumo à retomada do crescimento, se perde em políticas antiidentitárias, gera tensões desnecessárias, turvando o ambiente político, não amplia sua base, muito ao contrário, e, por fim, ingressou em forte deriva no terreno das reformas. Assim, o governo Bolsonaro se mantém unicamente como um governo de facção extremista de direita enquanto o país patina sem horizontes. Ao acumular descaminhos, a única certeza é que um dia essa conta vai chegar.

Os dias de espanto permanecem, infelizmente para todos nós.

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