- Folha de S. Paulo
Gente de empresa e finança está animada com 2020, mas ainda espera melhora concreta
Gente graúda de empresas e finança parece animada com o governo de Jair Bolsonaro em 2020, a julgar por uma rodada de conversas e por declarações dispersas pelos jornais. Não é pesquisa, é “evidência anedótica”, mas a diferença de tom é notável em relação a meados do ano que passou e mesmo aos humores já melhorados de fins de 2019, depois de aprovada a reforma da Previdência.
Estão animados com o quê? As respostas sugerem um “bem-estar difuso”, para parafrasear com sinal trocado um clichê das explicações para a meia década de revolta popular, de 2013 a 2018. Falam em “continuidade das reformas”. Quais?
Há vagas menções à reforma tributária, à intenção oficial de talhar gastos com servidores, a privatizações “mais aceleradas”. Mas não há clareza sobre as prioridades do governo. Rodrigo Maia, presidente da Câmara, é mais citado do que gente do governo como gerente-geral do barco reformista. Quase ninguém sabe dizer o nome de um negociador-geral de Bolsonaro.
Um motivo da desorientação parece ser o vazio do janeiro, a desinformação do recesso político. Outro, maior, é que o governo não parece ter mesmo prioridade além das sabidas.
A pauta econômica será decidida assim que líderes de Câmara e Senado voltarem de férias. O governo não sabe o que fazer da reforma tributária. Na Economia, não quer dizer seus planos, que envolvem a retomada de um imposto sobre transações e reforma em fases. No Planalto, há uma vaga ideia de “chegar a um acordo amplo” com Câmara e Senado, mas, francamente, as pessoas não sabem lá do que estão falando.
O núcleo sabido a pauta bolsonariana é bile paroquial com aparelhamento destrutivo e ideológico nas instituições de relações exteriores, educação, cultura, ciência e ambiente, o negócio habitual do primeiro ano da nova era. A diferença agora é que Bolsonaro terá mais poder e experiência para “quebrar o sistema”.
Quando se trata desses assuntos, certos empresários fazem cara de paisagem ou silêncios constrangidos nas conversas pelo telefone, além das declarações protocolares (“as instituições estão funcionando”). Quanto aos motivos materiais da animação, há menções à desmontagem da CLT, às taxas de juros em baixa recorde e à força do mercado de capitais.
Isto posto, a virada começou? Não propriamente, apesar da “melhora sensível”. Investimentos já estão saindo da gaveta ou o empresário ouviu tal coisa de colegas ou de outros setores? Não propriamente. É preciso “cautela”, “vamos ver o começo do ano, embora as perspectivas pareçam as melhores em muito tempo”. O pessoal da finança graúda parece mais animado que seus colegas de empresa, embora tenham menos simpatias pessoais pelo bolsonarismo.
Gente da indústria mais tradicional (têxtil, roupas, tecidos e mesmo comida, além do pessoal de máquinas) parece mesmo desanimada. Outros parecem escaldados pelo chabu da retomada em 2017, 2018 e 2019. Ainda assim, ressalte-se, o pessoal parece animado com as perspectivas de 2020. Animam-se também com aquilo que, de um modo ou de outro, dizem ser a estabilização política, embora o governo precise “investir mais na pauta da tranquilidade”.
Trocando em miúdos as observações impressionistas, trata-se em geral do seguinte: 1) governo e Congresso teriam chegado a algum modelo de convivência; 2) a “interlocução” dos congressistas com empresários seria “muito boa”; 3) não há oposição capaz de abalar esse esquema e há paz política “nas ruas”.
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