O veículo capotou no Arco Metropolitano; jornalista viajava para Vassouras para visitar a mãe
Felipe Grinberg | O Globo
RIO — O jornalista e ex-deputado federal Alfredo Sirkis morreu nesta sexta-feira, aos 69 anos, em acidente de carro, no Arco Metropolitano, em Nova Iguaçu (RJ). Sirkis estava a caminho do sítio da família, em Morro Azul, em Vassouras. Sirkis foi um dos fundadores do Partido Verde no Brasil, em 1986, e um dos pioneiros na militância ambiental no país.
O acidente ocorreu no início da tarde, próximo ao quilômetro 74. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, Sirkis estava sozinho no veículo, um Volkswagem Polo, e seguia em direção à Via Dutra. O carro saiu da pista, colidiu com um poste e capotou. A Polícia Civil fez uma perícia no local para determinar as causas do acidente, que será investigado pela 58ª DP (Posse). Informações preliminares da perícia apontam que Sirkis perdeu a direção do carro.
Filho único, Sirkis viajava para visitar a mãe, Lila, de 96 anos, em isolamento social por causa da pandemia. Segundo amigos, ele costumava fazer o trajeto com frequência. Além disso, ele também iria rever o filho Guilherme, que terminou o mestrado recentemente nos Estados Unidos e está com a avó. O ex-deputado também deixa uma filha, que mora nos EUA.
Muito emocionado ao telefone, o deputado estadual Carlos Minc (PSB-RJ) demonstrou toda a sua surpresa pela morte do colega.
— Não quero acreditar nisso. Há três dias estávamos conversando sobre o novo livro dele que ia chegar por esses dias.
O jornalista lançou este mês o livro “Descarbonário”, quase quatro décadas depois do lançamento de “Os carbonários”, livro sobre sua militância estudantil e na luta armada durante a ditadura militar, que lhe rendeu um prêmio Jabuti em 1981.
O prefeito Marcelo Crivella lembrou, em nota, o trabalho de Sirkis "por um Rio mais humano e solidário".
“Alfredo Sirkis era um militante apaixonado por todas as causas que abraçava. Como secretário de Urbanismo e de Meio Ambiente da nossa cidade, sempre trabalhou por um Rio mais humano e solidário. Sua luta mais recente era contra as mudanças climáticas que tanto ameaçam nosso planeta. Tinha ainda muito a contribuir com sua experiência e dedicação. Neste momento de grande dor, peço a Deus que conforte sua família, amigos e admiradores”, disse o prefeito.
O jornalista foi secretário de Meio Ambiente e, depois, de urbanismo, da Prefeitura do Rio no governo do ex-prefeito Cesar Maia, que também lamentou a morte do ambientalista.
“Uma perda enorme. Um quadro de formação múltipla: ambientalista, político, escritor, gestor, nesse momento estava se relançando com novo livro de superação do Carbonário”, disse Cesar Maia.
Como secretário municipal, Sirkis foi responsável pelo replantio de grande área desmatada e pela implementação das ciclovias na cidade do Rio.
No Twitter, o ex-deputado Chico Alencar lembrou as lutas em comum:
"Muito chocado com a morte, em acidente de carro, de Alfredo Sirkis. Fomos colegas de vereança, de Câmara Federal e lutas comuns. Sirkis, devoto da causa ambiental, pensava grande. Deixa um novo livro. Que haja consolo para sua família e que Deus o acolha no Reino Cósmico da Paz", pediu Alencar.
Alfredo Hélio Sirkis nasceu no Rio de Janeiro em 8 de dezembro de 1950, filho dos imigrantes judeus-poloneses Herman Syrkis e Liliana Syrkis. No Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAp/UFRJ), entrou no movimento estudantil, na coordenação do grêmio.
Integrou o movimento da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), do líder de esquerda Carlos Lamarca. Atuou na luta armada e participou de dois sequestros de embaixadores - o alemão Ludwig Von Holleben e o suíço Giovanni Bucher - que resultaram na libertação de 110 presos políticos, até ser exilado e viver oito anos fora do Brasil. Em 1971, Sirkis teve como destino no exílio o Chile. Passou por Argentina e Portugal, regressando ao Brasil em 1979, beneficiado pela Lei da Anistia.
Como jornalista, atuou nas revistas "Isto É" e "Veja", além de colaborar para vários jornais. Também foi roteirista na TV Globo da série Teletema. Atualmente, era diretor-executivo do Think Tank Centro Brasil no Clima.
Ele foi eleito vereador do Rio em 1986 e depois reeleito. Foi candidato à Presidência da República pelo Partido Verde em 1998 e atuou como deputado federal entre 2011 e 2015. Em 2010 e 2014, foi um dos principais articuladores políticos e coordenadores das campanhas de Marina Silva para a Presidência. No último pleito, em 2018, ele se afastou da candidata, mas não chegou a romper politicamente com ela.
Em maio de 2019, foi exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro do cargo de coordenador do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. A organização foi criada em 2000 como um instrumento institucional da Política Nacional de Mudança do Clima, que tem à frente o próprio presidente. O cargo não era remunerado.
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