Falei & Disse
As atividades mais comuns são o trabalho doméstico, a agricultura, a construção civil, os lixões, as feiras, a prostituição e o tráfico de drogas.Trabalho Infantil é crime contra a infância
e a adolescência.
O Brasil tem uma longa história de trabalho
infantil e uma grande dificuldade de entender que trabalho infantil não se
confunde com aprendizagem.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), de 2015, mostram que cerca de 2,5 milhões de crianças e
adolescentes entre 05 e 17 anos trabalham no País. Em 2019, o Brasil tinha 38,3
milhões de pessoas com idade entre 05 e 17 anos, das quais 1,8 milhão
em situação de trabalho infantil. Houve redução de 16,8% no contingente de
crianças e adolescentes em trabalho infantil frente a 2016, quando havia 2,1
milhões de crianças nessa situação. Proporcionalmente, o Brasil tinha 5,3% de
suas crianças e adolescentes em trabalho infantil em 2016, percentual que caiu
para 4,6% em 2019. (Agencia Brasil)
Entre os que trabalham, 21,3% têm entre 05
a 13 anos de idade.
As atividades mais comuns são o trabalho doméstico, a agricultura, a construção civil, os lixões, as feiras, a prostituição e o tráfico de drogas. Permanece viva parte da nossa cultura que não compreende que criança é um ser humano em condições especiais de desenvolvimento, devendo receber da família e da sociedade a proteção necessária através das políticas públicas.
O trabalho infantil acontece quando as famílias são pobres, têm muitos filhos, geralmente sem acesso à escola, porque a mão de obra da criança é mais barata que a do adulto e quando não acontece a fiscalização dos poderes públicos.
A maior consequência para a criança ou o
adolescente que trabalha é a perda da sua infância, uma etapa da vida em que
acontece a afirmação da identidade, florescem os sonhos e acontece o
desenvolvimento dos processos psicológicos, sociais e sexuais, suportes para
uma vida inteira sadia.
Além disso, provoca doenças e danos
físicos, atrofia a musculatura, danifica a estrutura óssea, induz ao baixo
rendimento escolar e compromete a capacidade de pensar e desenvolver a criatividade,
comprometendo o desenvolvimento das suas habilidades futuras para o mercado de
trabalho.
Ainda que alguns estudos apontem a queda do
trabalho infantil no Brasil, a realidade é que esse tipo de trabalho permanece
e nas formas mais duras e indignas, como no tráfico de drogas, na prostituição
infantil e no trabalho doméstico.
O UNICEF apresenta dados referentes a 2010
em que há registro de cerca de 250 mil crianças prostituídas no Brasil,
sobretudo nas regiões mais pobres.
Todos nós sabemos que o nosso País possui
uma vasta legislação de proteção à criança, garantindo a todas elas a proteção
integral a partir da realização do pré-natal durante a gravidez da mãe.
O Brasil tem uma das legislações mais
avançadas do mundo no que diz respeito à proteção da infância e da
adolescência. No entanto, é necessário adotar políticas públicas capazes de
combater e superar as desigualdades geográficas, sociais e étnicas do País e
celebrar a riqueza de sua diversidade, diz o relatório do UNICEF.
Mas, na prática, não é isso que acontece,
as leis não são cumpridas, não há fiscalização eficiente e a sociedade continua
alheia às necessidades das crianças e adolescentes e ao dever de assegurar-lhes
os direitos garantidos em leis. Além de continuar absorta em sua cultura
atrasada que menospreza o desenvolvimento de seus filhos, em sua etapa de vida
mais importante que é a infância.
A visão “capenga” de que o trabalho na
infância e na adolescência molda o caráter do ser humano e agrega valor à
personalidade, é pura “balela”, ao contrário, provoca sequelas para o resto da
vida.
Segundo Bruno de Carvalho, Juiz do Trabalho
do Maranhão, é “necessário, portanto, um olhar diferente. Para entender a real
importância da rede de proteção das crianças e dos adolescentes, é preciso se
colocar no papel deles frente aos desafios e riscos da vida. Se esses desafios
são difíceis para nós, adultos, o que dirá para as crianças?”
Com a pandemia, o trabalho infantil tem
encontrado vários aliados na difícil vida da população, como a violência
doméstica, a falta de renda, o desemprego, a carestia que tomou conta dos lares
da maioria da população e a fome que bate à porta mais intensamente de 52
milhões de pessoas.
Além do mais, o Brasil tem um presidente da
República que defende o trabalho infantil, na contramão da legislação vigente.
Em sua transmissão semanal no Facebook, o presidente
Jair Bolsonaro relembrou o seu tempo de trabalho infantil em fazendas do
interior de São Paulo, afirmando que o “trabalho dignifica o homem e a mulher,
não interessa a idade”(Talita Uol)
Segundo dados do Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, o Brasil teve, entre
2007 e 2018, 261 mortes e 43.777 acidentes de trabalho com crianças e
adolescentes entre 05 e 17 anos. Se destaca, ainda, que dentro dos mais de 43
mil casos de acidentes de trabalho, cerca de 25 mil atingiram adolescentes com
idade para trabalhar como jovem aprendiz dentro da legislação – a partir dos 14
anos – e foram vítimas em atividades que lhes eram proibidas por conta da
insalubridade ou da periculosidade.
A Coordenadora Nacional do Combate à
Exploração ao Trabalho Infantil do Ministério do Trabalho, Patrícia Sanfelici,
em entrevista, alerta que “a alternativa adequada e justa para a criança será
sempre a educação e o cuidado que ela merece. A gente não pode pensar de outro
modo. A Constituição brasileira assegura proteção integral, absoluta e
prioritária da infância. Se a gente entende que a infância deve ser protegida,
a gente deve protegê-la como um todo.”
Em tempo: o Brasil se encontra em profundo
sofrimento pelas famílias de mais de 500 mil pessoas que perderam suas vidas
para o vírus e para a falta de responsabilidade do governo federal no combate a
pandemia.
*Mirtes Cordeiro é pedagoga.
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