domingo, 14 de agosto de 2022

Eliane Cantanhêde - Assassinando a realidade

O Estado de S. Paulo

Se nos EUA tantos creem que Trump é santo, a Terra é plana e vacina mata, imaginem aqui...

Antes, “a economia, estúpido!”. Agora, “a narrativa, estúpido!”. O Planalto e a campanha do presidente Jair Bolsonaro (unidos pelo “gabinete do ódio e das fake news”) misturaram as duas coisas, economia e narrativa, botaram no liquidificador do marketing e criaram uma campanha altamente profissional – que produz resultados.

Na economia, danem-se teto de gastos, responsabilidade fiscal, lei eleitoral e vale intervir em estatais, preços e impostos. O beneficiário de hoje é o maior prejudicado de amanhã, mas, para os estrategistas políticos, o que vale é gasolina, diesel, gás, inflação e desemprego caindo na marra e compra de votos na veia. No marketing, até em peças em francês, inglês e espanhol, a narrativa invertida que transforma fake news em realidade, realidade em fake news e Bolsonaro no “mito” de Deus, Pátria e família.

O “patriota” é quem destrói a imagem do Brasil, disse a dezenas de embaixadores estrangeiros e ao mundo que o Brasil é uma porcaria, as eleições são fraudadas, instituições e ministros do Supremo, desprezíveis? E bate de frente com todos os nossos principais parceiros na Ásia, Europa, América do Norte, América do Sul?

Família? Deus? Com culto às armas, fuzis na sala de jantar, tiros na festinha do bebê, bolo “tresoitão”, rachadinhas, mansões, apartamentos, dinheiro vivo? E tentam trazer Deus para a arena política, numa guerra entre cultos, crenças, religiões. Isso é cristão?

Na narrativa paralela, ministros do STF, governadores e prefeitos foram os vilões na pandemia. Eles é que faziam atos golpistas e sem máscara, atrasaram as vacinas, não se vacinaram e não vacinaram os filhos, empurraram a cloroquina contra a covid, trabalharam contra o isolamento social?

Democrata? Quem ataca Supremo, TSE, seus ministros, o sistema eleitoral, a mídia e só não ataca o Congresso porque o Centrão está no comando? Quem aparece em lives com um exemplar da Carta, depois de usar o 7 de Setembro para ameaçar descumprir ordem judicial e incendiar o País? E quem defende “eleições limpas”? O presidente que se elegeu deputado várias vezes e chegou ao Planalto pelas urnas eletrônicas e diz ao Brasil e ao mundo que as urnas são fraudadas? E que, para isso, jogou as Forças Armadas do Brasil no seu pior período desde a redemocratização, passando vexame?

Como alguém cai nessa narrativa? Bolsonaro democrata, pela Pátria, família e Deus, pela Constituição, por “eleições limpas”, impecável na “gripezinha”? Pois é. Se nos EUA, uma das maiores democracias do mundo, tantos acreditam que a Terra é plana, Donald Trump é santo e a vacina da covid é coisa do diabo, imaginem aqui...

4 comentários:

Paulo dos Santos Andion disse...

Quando não são as anomalias é a falta de educação imaginem que passados uns 19 anos as mulheres de baixa renda dos grandes centros urbanos retiravam seus filhos das escolas assim que aprendiam a ler e escrever pela falta de recursos econômicos para a compra do material escolar.

Anônimo disse...

A colunista foi perfeita na sua análise! Bolsonaro comete crimes em série e se apresenta como perseguido e religioso... Mente descaradamente várias vezes ao dia e exalta a Verdade nos seus discursos. É uma réplica piorada e muito mais perigosa de Trump, a quem tenta imitar e superar! 2 canalhas golpistas da pior espécie...

ADEMAR AMANCIO disse...

É Paulo dos Santos,em um comentário aparece Pau.

Anônimo disse...

No Brasil, alguns acreditam que Bolsonaro é santo ou mito... Sinto muito, mas ele é mais sujo que pau de galinheiro!