segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Bruno Carazza* - O difícil quebra-cabeça do ministério de Lula

Valor Econômico

Sobram nomes e falta espaço para coalizão do petista

As bolsas de apostas quanto aos nomes de ministeriáveis estão frenéticas desde que o Tribunal Superior Eleitoral declarou Lula vencedor do pleito presidencial.

Montar um ministério não é tarefa fácil para ninguém, dada a necessidade de contemplar, com posições de destaque, parceiros e correligionários de longa data, técnicos respeitados e representantes de partidos que comporão sua base de governo.

No caso do terceiro mandato de Lula, a tarefa é ainda mais difícil, por circunstâncias próprias do momento vivido pela esquerda e, em especial, pelo Partido dos Trabalhadores.

Depois de tudo o que passaram desde a Lava-Jato, o impeachment de Dilma Rousseff e prisão de Lula, o retorno ao poder representa o momento de premiar quem se manteve fiel durante a travessia do deserto.

Muitos são os petistas que se sentem credores do apoio concedido a Lula ao longo dos últimos anos e se julgam merecedores de um lugar no primeiro escalão do governo.

Pelo papel que exerceram na campanha, Gleisi Hoffman, Aloizio Mercadante, Edinho Silva e Alexandre Padilha têm cotações elevadas no mercado para se tornarem ministros.

Lula precisará ainda equilibrar uma base mais sólida no Senado com bons articuladores no Executivo. Nesse sentido, os senadores Jaques Wagner, Wellington Dias, Humberto Costa e Camilo Santana esperam a definição sobre em qual lado da Praça dos Três Poderes eles se instalarão.

O futuro presidente também terá que recompensar petistas sacrificados nas eleições estaduais e acomodar quadros importantes do partido que saíram derrotados nas urnas.

Entre os que colocaram objetivos pessoais de lado em nome das alianças regionais do PT estão os governadores Rui Costa e Izolda Cela, o senador Jean Paul Prates e o deputado Reginaldo Lopes. Entre os candidatos derrotados, Fernando Haddad e Jorge Viana são presença certa no Diário Oficial no primeiro dia útil do governo Lula 3.

A volta ao Palácio do Planalto é a oportunidade de ouro para o PT fazer a transição para um futuro sem Lula. E com tantas opções, é duvidoso esperar que o partido abrirá mão dos principais postos da Esplanada.

Depois dos discursos da semana passada, ficou claro que Lula pretende repetir 2002 indicando petistas para a Fazenda e o Planejamento (Rui Costa, Padilha, Haddad e Wellington Dias são os mais comentados). Dada a centralidade que costumam ter na execução da política econômica petista, presidências e diretorias de Petrobras, BNDES, BB e Caixa certamente entrarão neste pacote.

Na área social, dificilmente o PT renunciará às joias da coroa, Educação e Saúde. E naturalmente controlará também as pastas da articulação política, como Casa Civil e as secretarias palacianas com status de ministério. Até o Itamaraty poderá ser utilizado para abrigar algum petista.

Acontece que a eleição disputadíssima travada com Jair Bolsonaro exigiu a formação de uma ampla frente de apoio a Lula. E essas forças precisarão ser contempladas.

Partido que costurou a aliança com Geraldo Alckmin, o PSB se sente credor e oferece nomes fortes. O senador eleito Flávio Dino é cotadíssimo para a Justiça, mas a sigla quer mais. Afinal, o governador pernambucano Paulo Câmara desistiu de concorrer ao Senado em nome da petista Teresa Leitão. E o próprio Alckmin tem cacife de sobra para indicar seus apadrinhados, a começar por Márcio França, que pode ser escalado para várias posições.

Ainda entre os membros da coligação, Marina Silva é pule de dez como a representante da Rede no Ministério do Meio Ambiente ou em uma eventual Autoridade Ambiental. Guilherme Boulos é forte candidato ao ministério das Cidades, embora haja quem acredite que para sua carreira seja melhor continuar na Câmara - de toda forma, o Psol tem crédito para indicar um representante no ministério.

Para além da esquerda, Simone Tebet e André Janones foram essenciais para garantir a vitória de Lula. A senadora se julga merecedora de um posto de grande visibilidade, como o ministério que tocará o novo Bolsa Família e outras políticas sociais, enquanto Janones sonha em manter sua influência sobre a estratégia de comunicação do Planalto.

Para adicionar ainda mais complexidade, o baixo número de cadeiras obtidas pela coligação de Lula nas urnas (apenas 136 deputados e 15 senadores) exigirá uma negociação com partidos da centro-direita, como MDB, PSD e União Brasil, a fim de se ter condições mínimas de governabilidade.

Para atrair esse bloco para sua base, não adianta oferecer os ministérios da Cultura, das Mulheres, da Igualdade Racial ou dos Povos Originários - esses devem ser ocupados por figuras da cultura, da academia e de movimentos sociais.

Os caciques do MDB, PSD e União Brasil querem órgãos com influência, estrutura, cargos e, principalmente, orçamento. Com as principais pastas da área econômica, social e política asseguradas para petistas e seus aliados de primeira hora, as demais lideranças políticas e os representantes do mercado ficam de olho num número restrito de ministérios.

Lula deve acenar para o empresariado com a nomeação de representantes da indústria e do agronegócio no Desenvolvimento e na Agricultura, enquanto os partidos de sua futura base ampliada (MDB, PSD e União Brasil) devem repartir entre si ministérios que administram fatias expressivas do orçamento público ou regulam setores importantes da economia, como Infraestrutura, Desenvolvimento e Integração Regional, Comunicações e Minas e Energia.

Para fechar a composição, Lula tem a imensa responsabilidade de indicar quem ficará à frente dos ministérios da Defesa e da Segurança Pública, que terão que apaziguar os ânimos de militares e forças policiais, grupos fechados com Bolsonaro.

É muita gente para agradar e muito abacaxi para descascar na montagem do ministério de Lula.

*Bruno Carazza é mestre em economia e doutor em direito, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”. 

2 comentários:

Anônimo disse...

São muitos nomes petistas para o tamanho relativamente reduzido do partido. Gleisi provavelmente seguirá na presidência do PT, alguém da confiança de Lula tem que comandar o rebanho! Se todo mundo embarcar no governo, quem vai evitar mais um naufrágio do partido? Há anos, tem reputação mais suja que pau de galinheiro... Como muitos outros, diga-se de passagem!

ADEMAR AMANCIO disse...

Não vai ser fácil acomodar tanta gente.