Correio Braziliense
O presidente eleito disse que não pretende interferir nas eleições do
Congresso, em fevereiro, quando Lira, aliado de Bolsonaro, e Pacheco disputarão
a reeleição, na Câmara e no Senado, respectivamente
Antes mesmo de tomar posse, o presidente
eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao restabelecer o diálogo político como
método para resolução de conflitos, numa maratona de reuniões, ontem,
distensionou as relações entre os Poderes da República. Ele se reuniu com os
presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa
Weber, e com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de
Moraes. Depois, deu entrevista à imprensa sem incidentes. Pôs um ponto final no
choque entre os Poderes, principalmente entre o Executivo e o Supremo, ao
defender a harmonia entre eles. O vice-presidente Geraldo Alckmin também
participou dos encontros.
O caminho crítico era principalmente a relação com Lira, em razão de duas agendas: a PEC da Transição, que envolve a questão do orçamento secreto, e a eleição para o comando da Casa. Ficou acertado que a emenda constitucional será apresentada até 15 de novembro, com objetivo de permitir que os recursos do Bolsa Família, incluindo os R$ 150 a mais para cada filho, extrapolem o teto de gastos. Essa autorização servirá para destinar recursos aos programas da Educação e da Saúde.
A proposta em elaboração pela equipe de
transição deve ser encaminhada não somente a Lira, mas também ao presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que será o responsável por dar inicio à
tramitação da PEC. Na Câmara, o projeto será apensado a outra Proposta de
Emenda Constitucional que já esteja em condições de votação.
Na entrevista coletiva, Lula disse que se
candidatou “com o compromisso de que é possível resgatar a cidadania do povo
brasileiro, de que é possível a gente recuperar a harmonia entre os poderes, de
que é plenamente possível recuperar a normalidade da convivência entre as
instituições brasileiras”. Sem citar o presidente Jair Bolsonaro (PL), o
presidente eleito destacou: “Instituições que foram atacadas, que foram
violentadas pela linguagem nem sempre recomendável de algumas autoridades
ligadas ao governo”.
Lula disse, também, que não pretende
interferir nas eleições do Congresso, em fevereiro, quando Lira, aliado de
Bolsonaro, e Pacheco disputarão a reeleição, na Câmara e no Senado,
respectivamente. “Não cabe ao presidente da República interferir em quem será o
presidente do Senado ou da Câmara. Ou seja, quem vai decidir quem será o
presidente das casas serão senadores e deputados. O papel do presidente da
República não é gostar ou não de presidente, é conversar com quem dirija a
instituição”.
O presidente eleito aproveitou para mandar
um recado aos bolsonaristas que estão fechando rodovias e protestando à porta
dos quarteis, porque não aceitam o resultado das eleições. “Essas pessoas que
estão protestando, sinceramente, não têm por que protestar. Deviam dar graças a
Deus pela diferença ter sido menor do que aquilo que nós merecíamos ter de
votos. E eu acho que é preciso detectar quem é que está financiando esses
protestos, que não têm pé nem cabeça. Ofensas a autoridades, ameaças de
fechamento, agressão verbal”, disse.
Urnas eletrônicas
Ontem, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio
Nogueira, encaminhou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o relatório das
Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas. Os militares realizaram uma
auditoria do pleito, diante de questionamentos de Bolsonaro e de seus
apoiadores sobre a lisura do processo eleitoral. Eles haviam sido convidados
pelo então presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, para integrar a Comissão de
Transparência das Eleições, criada em setembro de 2021. Além de integrantes das
Forças Armadas e de representantes da Corte Eleitoral, participam do grupo
especialistas em tecnologia da informação e membros da sociedade civil.
O Ministério da Defesa destacou que “o
documento foi produzido por uma equipe composta por oficiais de carreira
especialistas em gestão e operação de sistemas de tecnologia da informação; em
engenharia de computação e de telecomunicações; em defesa cibernética; entre
outras; e seguiu rigorosamente os parâmetros estabelecidos na Resolução nº
23.673, de 14 de dezembro de 2021, do TSE”. É um ponto final nas especulações
sobre o envolvimento das Forças Armadas no questionamento dos resultados
eleitorais.
O relatório fora mantido em sigilo por
exigência de Bolsonaro, mas Alexandre de Moraes havia determinado que fosse
entregue e divulgado até ontem. Segundo a Defesa, o relatório também apresenta
“observações, conclusões e sugestões relacionadas, especificamente, ao sistema
eletrônico de votação, conforme as atribuições definidas pelo Tribunal às
entidades fiscalizadoras”.
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