O Estado de S. Paulo
As margens de manobra são estreitas e difíceis de serem superadas
Lula ainda não assumiu, mas já é possível
constatar o quanto está emparedado. O êxito ou o fracasso de seu governo
dependerá em boa medida da capacidade de superar essas barreiras.
O vai e vem em torno da fórmula para
financiar o Bolsa Família pagando R$ 600 por mês demonstrou como é estreita a
margem de ação legal, embora exista uma quase unanimidade política pela
manutenção do benefício social nessas dimensões. Demonstrou também como é
estreita a margem de atuação fiscal.
Esse é um problema gritantemente óbvio e uma das principais heranças não só de Bolsonaro. Até aqui Lula vem tentando escapar dessa parede – a necessidade de uma âncora fiscal, ou seja, de um limitador de gastos –, criando uma falsa dicotomia entre “responsabilidade fiscal” e “responsabilidade social”, quando são a mesma coisa.
Agentes econômicos que se preocupam com
juros e inflação não compram essa frase de palanque. Nem concedem ao presidente
eleito o benefício da dúvida quando constatam que os nomes que integram a
equipe de transição são água e óleo em termos de doutrinas econômicas.
Particularmente nas questões que envolvem
princípios ou “escolas de pensamento” (economia e política externa, por
exemplo) Lula, por enquanto, está emparedado pela velha-guarda do partido. Ela
já funciona como freio no protagonismo de Geraldo Alckmin e o teste da solidez
dessa parede virá o mais tardar quando o presidente eleito nomear as
prioridades.
Lula enfrenta outra questão de
emparedamento – a dos poderes ampliados do Legislativo – que não é meramente
circunstancial e que pudesse ser eliminada via compromissos políticos
acrescentando siglas partidárias à “base”. O Brasil vive de fato uma situação
de semipresidencialismo com dois primeiros-ministros, da qual o orçamento
secreto é apenas sua expressão mais visível.
A pior situação de emparedamento, contudo,
é a profunda divisão política do País. O novo governo provavelmente terá poucas
dificuldades em lidar com os protestos bolsonaristas, que persistem, mas têm
limitado alcance, e de apelo golpista sem perspectivas de êxito. Bolsonaro se
mostrou incompetente na articulação de uma “virada” institucional (eufemismo
para golpe) e seu receio de ser preso tem fundamento.
O verdadeiro emparedamento é o mais difícil
de todos. Surge da enorme desconfiança em relação ao PT (um pouco menos em
relação a Lula) nutrida por vastos setores sociais (incluindo religiosos),
políticos e econômicos, com destaque para segmentos como a agroindústria. É
grave erro político igualar essa oposição ao alarido da extrema direita
bolsonarista.
2 comentários:
Nem às paredes confesso,rs.
William Zé Waak, seja na Globo, na CNN ou no Estadão, sempre mostrará, um dia, o que é e a que veio: um racista imbecil, a soldo.
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