O Estado de S. Paulo
Nunca, em tempo algum, um golpe foi tão ridículo, com personagens tão absurdos
Direção, roteiro, personagens, locais e até
o figurino ainda têm lacunas e o que era para ser um drama está desaguando numa
comédia de quinta categoria sobre tentativas de golpe numa “Republiqueta de
Bananas”. Os protagonistas são o presidente, familiares, políticos malfalados e
militares, em palácios. Os coadjuvantes são ingênuos bem financiados e
embolados com gente bem treinada, nas ruas.
Que roteirista imaginaria um presidente desfilando de jet ski com os primeiros 10 mil mortos de covid, nadando nos mares afrodisíacos com centenas de famílias afundando em enchentes, rodando em motociatas com tantos problemas a resolver? Contra vacinas e o sistema eleitoral do País, um sucesso internacional? E que tal um presidente ameaçando golpe por quatro anos?
No script, o ministro da Justiça sai do
governo, assume a Segurança do Distrito Federal e, portanto, do novo presidente
e dos três Poderes, mexe na cúpula do órgão e corre para a Flórida, onde está o
tal presidente golpista. Ato contínuo, milhares de insanos invadem sem
resistência os palácios de governo, Suprema Corte e Congresso, quebrando tudo
compulsivamente. Preso o ex-ministro, a polícia acha o documento do golpe na
sua casa.
Seria decretado estado de defesa no
tribunal eleitoral, com destituição dos ministros e criação de uma comissão com
17 integrantes, nove deles militares. Ouvido, o presidente do partido do
governo, ex-condenado, diz que todo mundo tinha aquele papelzinho, era só
brincadeirinha.
Na sequência, um senador amigo anuncia a
renúncia ao mandato e relata, em detalhes, um encontro com um condenado
esquisitão e o presidente, de bermuda e chinelo, na residência oficial. Só
faltava uma blusa bem florida, para caracterizar filmetes na parte brega de
Miami. E ele concordava com tudo.
A ideia era usar escutas sofisticadas da
área de inteligência do governo – chefiada por um general – para grampear o
ministro da alta Corte que lidera os inquéritos contra os variados golpistas,
prender o ministro e anular as eleições. No fim, aplicar a intervenção no
tribunal eleitoral, impedir a posse do presidente eleito e instalar uma
ditadura, com o tal da bermuda, motos, jet skis, antivacina e antieleições,
cercado de generais e sob um falso “patriotismo”.
The End? Não. O senador denunciante recebe
ligações dos filhos do presidente, livra a cara do presidente, muda a versão e
se recusa a assinar um testemunho na Justiça. E a tragédia, ou comédia, vira
série. Nos próximos capítulos: quem fez o “decreto”, o senador mentiu, ou
contou a verdade e foi “convencido” a recuar? Com que propósitos? E, afinal, é
para rir ou chorar?
2 comentários:
Nem drama nem comédia.
Filme de terror.
Direção psicótica.
Atores medíocres.
Contra regragem tóxica.
Pois é.
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