O Estado de S. Paulo.
Lula e Biden se unem contra a extrema direita, mas divergem quanto a China e Rússia
Política externa, como tantas coisas na
vida, é feita (também) de interesses e conveniências e o que não falta nas
relações do Brasil de Lula com os EUA de Joe Biden são exatamente interesses e
conveniências. Isso, porém, não apaga velhas divergências entre os dois países,
nem o ranço petista contra “o império” e os rastros da política externa Sul-Sul
de Lula 1 e 2, pautada na resistência a um “mundo unipolar”, leia-se, aos EUA.
Lula e Biden enfrentam os fantasmas de Bolsonaro e Trump e a ascensão de uma extrema direita mundial raivosa e sem limites, alimentada pela internet. Logo, um interesse comum é combater esses movimentos e se prevenir contra novos ataques, com Lula atuando claramente pela recuperação do prestígio do Brasil e do seu próprio palanque internacional. Washington é fundamental nessa direção.
Além de investimentos, comércio e programas
de cooperação técnica, Lula reativa as boas posições do Brasil sobre direitos
humanos na ONU e em foros internacionais e vai jogar holofotes no genocídio dos
Yanomamis, que traça uma fronteira drástica entre ele e Bolsonaro e é um
estímulo para captar ajuda financeira para a preservação da Amazônia e dos
povos originários do Brasil.
Do lado de Biden, aplaudido de pé várias
vezes na reabertura do Congresso, mas com difíceis problemas internos, há duas prioridades.
Uma é reforçar a defesa do ambiente, um tema cada vez mais forte no mundo e uma
das suas marcas, no qual o Brasil tem natural protagonismo. A outra é reagir ao
avanço da China na América do Sul.
Em 2022, o comércio de Brasil e EUA teve o
recorde de US$ 89 bi e os EUA são o principal destino das exportações
brasileiras de manufaturados e semimanufaturados e o maior investidor no
Brasil. Não custa lembrar, porém, que foi na era Lula que os Brics (Brasil,
Rússia, Índia, China e, depois, a África do Sul) encorparam e a China
ultrapassou os EUA como maior parceiro comercial do Brasil.
Logo, a saia-justa do encontro entre Lula e
Biden será em torno da China (aonde Lula vai em março) e da invasão da Rússia
na Ucrânia. Apesar das gritantes diferenças, Lula e Bolsonaro resvalam para a
mesma posição na guerra, sem condenação explícita à Rússia. É o oposto dos EUA,
que lideram o apoio à Ucrânia, com recursos e armamento. Logo, a dúvida é como
Lula vai tratar esse tema.
Aliás, o tempo será curto, só uma hora, dividida entre o encontro a dois, mais os chanceleres e o assessor especial Celso Amorim, e a reunião ampliada, com os demais ministros. Lula vai falar à imprensa, mas sem Biden. Não está prevista a tradicional entrevista dupla nos jardins da Casa Branca.
Um comentário:
Eliane sabe das coisas.
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