O Globo
O mundo já reconhece plenamente um Brasil
que retoma seu lugar, como ator responsável e comprometido
A visita oficial do presidente Lula a Washington,
na última sexta-feira, foi muito além do simbolismo do relançamento da relação
com os Estados Unidos no mais alto nível. Do encontro, tanto na dimensão
pública quanto na das reuniões de trabalho, ficou clara a sintonia entre os
presidentes Lula e Biden sobre a importância da retomada do diálogo bilateral
estreito e da cooperação em questões cruciais, como a defesa da democracia e a
volta do Brasil à liderança no debate sobre o meio ambiente e a mudança
climática.
A decisão do governo Biden de engajar-se nos esforços internacionais em torno do Fundo Amazônia representa um gesto político de grande significado e também um reconhecimento ao governo Lula pelo combate à criminalidade ambiental desde o primeiro dia da sua gestão. Esses esforços revelaram a todos uma tragédia anunciada, a dos ianomâmis, fruto da ganância e da crueldade humanas, acobertadas pela omissão governamental.
Como definiu o então presidente eleito,
Lula, no Egito, durante a COP27 em novembro passado, o Brasil está de volta. E
o mundo recebeu o país de braços abertos, fato demonstrado já a partir da
expressiva presença de líderes na posse presidencial. As cifras e o nível dos
contatos mantidos falam por si: nos 40 dias até a viagem a Washington, o
presidente Lula participou de 16 encontros presenciais com chefes de Estado e
de governo, a que se somam dirigentes da União Europeia e de organismos
internacionais como a Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO), e ainda de outros seis contatos telefônicos com presidentes
ou primeiros-ministros. Além de acompanhar esses contatos, mantive outros 22
encontros bilaterais e 14 telefonemas com ministros e dirigentes de organismos
internacionais. Recebi, ainda, em visitas oficiais, chanceleres de Japão,
Grécia e França.
Assim começamos a entregar resultados da
primeira encomenda que recebi do presidente ao ser nomeado: reconstruir pontes,
a começar pelos países vizinhos e pelos demais países latino-americanos, já a
partir da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos
(Celac), em janeiro, além do continente africano e dos grandes polos de poder
mundial, como os EUA, a China e a União
Europeia. O relançamento dessas parcerias estratégicas requer forte apoio da
diplomacia presidencial e conta com a qualidade dos quadros do Itamaraty, que
receberam a missão com renovado entusiasmo.
Nesses 40 dias, retomamos a boa tradição da
política externa brasileira, que soube construir sua reputação de excelência
sempre orientada pelo interesse nacional. Ficam para trás os recentes tempos do
terraplanismo diplomático no país, em que as boas práticas foram substituídas
por teorias da conspiração delirantes, por bravatas e por provocações infantis
a nossos principais parceiros. Essa página foi virada, e o mundo já reconhece
plenamente um Brasil que retoma seu lugar, como ator responsável e comprometido
com a busca de soluções para os grandes problemas globais, ao lado do
imperativo da promoção do desenvolvimento econômico e humano para a população
brasileira.
Como a política externa não é um fim em si
mesmo, e sim um meio para promover os interesses do país num mundo repleto de
novos conflitos e desafios, essas pontes são símbolos de um recomeço. E têm
como objetivos recuperar perdas acumuladas e voltar a fazer da diplomacia uma
ferramenta eficaz. Com pragmatismo, diálogo com a sociedade e foco no interesse
nacional, vamos explorar novas oportunidades, preparar o país para exercer a
presidência do G20, no ano que vem, e estamos avaliando os novos passos de
processos negociadores herdados de gestões anteriores, como o da acessão à OCDE
e o acordo Mercosul-UE.
Por essas pontes novas e sólidas, as
primeiras visitas presidenciais, a Buenos Aires, Montevidéu e
Washington, marcam o caminho da volta às nossas melhores tradições diplomáticas
e da saída do isolamento.
*Mauro Vieira é ministro das Relações Exteriores
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