O Globo
Ministro precisa aproveitar o fôlego para
articular a aprovação de suas propostas de longo prazo no Congresso
Fernando Haddad ganhou um round com a
reoneração dos combustíveis. Depois de ser contrariado com a demora da volta da
cobrança dos tributos, que pretendia restabelecer no início do ano, e com a
forma como Lula e o PT passaram a travar a discussão sobre política de juros,
autonomia do Banco Central e metas de inflação em cima do caixote, desta vez
ele conseguiu defender o território do novo ataque especulativo vindo da ala
política do governo e do partido.
Por mais que tenham sido anunciadas atenuantes para o impacto da volta dos impostos sobre o bolso dos consumidores/eleitores, e, consequentemente, sobre a popularidade de Lula, prevaleceu a visão do ministro da Fazenda de que é preciso começar a recompor a arrecadação e de que seria um erro chancelar uma política eleitoreira de Jair Bolsonaro tão criticada pelo próprio presidente e pelo PT na campanha. Ponto para ele.
Agora, Haddad precisa aproveitar o fôlego
para articular a aprovação de suas propostas de longo prazo no Congresso. E,
para isso, precisará contar com a ajuda, e não o boicote, da ala política.
Conta a favor dessa nova fase o fato de Alexandre Padilha, responsável por
construir a governabilidade de Lula, não fazer parte do fogo amigo contra ele.
Pelo contrário: atuou como bombeiro. Tem de ser “cooptado” como aliado da
equipe econômica no Planalto contra a narrativa que ganha espaço em setores do
PT começando a pintar o titular da Fazenda como “um aliado do rentismo” no
governo, como cheguei a ouvir de um correligionário dele.
Essa fritura tem o objetivo de substituir
Haddad por alguém mais afinado com a visão de que os juros precisam cair
rapidamente e a política de metas de inflação mudar radicalmente, bem como a
política de preços da Petrobras. Haddad é defensor de um gradualismo
responsável nessas mudanças, quando não contrário a algumas das fórmulas desse
receituário desenvolvimentista.
Para ser vencedor ao final da partida, e
não só num lance, precisará mostrar que o caminho que traçou para retomar o
crescimento, dissipar as desconfianças e permitir uma queda consistente dos
juros terá respaldo de quem tem voto, deputados e senadores.
Esse caminho inclui o minipacote de aumento
da arrecadação apresentado no início do ano, o novo marco fiscal e a reforma
tributária. Aprovar tudo isso exigirá, forçosamente, que o governo conquiste a
parcela do Centrão que não é bolsonarista, e não mais acenos à esquerda, como
vem buscando de forma estridente o comando do PT, com ecos em integrantes da
ala palaciana do Executivo.
Haddad tem dito a aliados que o substituto
do teto de gastos já está desenhado em sua equipe e será apresentado no mês que
agora se inicia. A reforma tributária seria mais fácil, por estar relativamente
madura junto aos congressistas e demais atores e porque Bernard Appy, um dos
“pais da matéria”, integra seu time.
Acontece que ainda está muito difícil ler a
correlação de forças no Congresso. Flopou a tentativa de agregar o União Brasil
à base. Os três ministros da sigla não contam como um em termos de aval das
bancadas da Câmara e do Senado, além de estarem sob ataque de todo lado e
balançando nos galhos.
O pior do episódio da fritura de Haddad na
questão dos combustíveis foi ter deixado no ar a impressão de que Lula, se não
incentivou, ao menos deixou correr solto o tensionamento público feito pela
presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Se se importar com o sobe e desce das
pesquisas de popularidade numa largada tão complexa como a deste governo, Lula
tem grande chance de “dilmar”.
Os afoitos que esquentam a orelha do presidente contra o ministro, que — não custa lembrar — ele escolheu pessoalmente, não levam em conta todas as variáveis complexas, a começar pelo bolsonarismo nem tão latente da sociedade e do Congresso.
Um comentário:
É,o perigo ronda.
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