Folha de S. Paulo
Oficiais-superiores do Exército estudaram
subversão e queriam tomar STF
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou certa vez
que bastariam um cabo e um soldado para fechar o Supremo. Disse tal
coisa de modo fanfarrão e cafona, mas presciente —sabia com antecipação do que
estava falando.
Em tom de quem pede para levar "umas
brejas pro churras", o coronel Jean Lawand pediu ao "irmão"
tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que convencesse
o presidente das trevas a dar o golpe, em dezembro do ano passado, em troca
de mensagens revelada pela revista "Veja". A conspiração golpista,
porém, era maior e mais antiga.
Além de iletrado e vulgar, o apelo de Lawand parece pateta. Até mesmo Cid responde que Bolsonaro não daria o golpe por falta de confiança no Alto Comando do Exército.
Para quem lembra das quarteladas contra
Juscelino Kubitschek (1956-1961), a história parece menos ridícula. Essas
intentonas eram o resto do ressentimento pelo fracasso do golpe contra Getúlio
Vargas, em 1954, e indícios do que viria em 1961 e 1964.
É um passado remoto? Então se pode lembrar
do coronel Hugo Chávez. Caricato? Tudo bem. Então se leiam todos os documentos
levantados pela Polícia
Federal no celular de Cid.
Antes de ir aos textos, observe-se que
Lawand e Cid estavam no caminho para o topo do generalato. Foram os melhores de
suas turmas da Academia Militar das Agulhas Negras, o que dá preferência nas
promoções iniciais, e tinham carreiras de destaque. Talvez estivessem no Alto
Comando dos anos 2030 —em um país podre, talvez ainda cheguem lá. Cid também
liderava uma quadrilha de militares falsários, a turma da vacina
"fake", e cuidou da muamba das joias
das arábias. Um palerma e um trambiqueiro. Mas armados.
Nos textos do celular de Cid se nota que o
golpe era assunto de estudos de pelo menos uma turma do Curso de Comando e
Estado-Maior do Exército, de 2017, pós-graduação destinada a majores e
tenentes-coronéis. A discussão parece continuar por anos, em textos de lógica
capenga e de argumentos jurídicos torturados, com o objetivo de achar um
fundamento da intervenção militar nos Poderes.
Existiria um caso, enfim concluem os
luminares militares do direito, em que as Forças Armadas poderiam intervir sem
a convocação dos Poderes. Provocado por uma espécie de arrazoado do presidente
da República, o comando das Forças Armadas avaliaria a situação e poderia, por
si, desencadear uma intervenção.
O debate culmina em 2022, com a redação de
uma exposição presidencial de motivos para o estado de sítio e a intervenção
militar. Entre tantas razões, o STF e o TSE teriam
violado o "princípio constitucional da moralidade", requisito da
legalidade.
O material exige análise extensa, que não
cabe aqui. Mas deixa claro o projeto de se encontrar doutrina e pretexto para
golpes. Quantos estavam envolvidos nesse projeto?
Os generais Augusto Heleno e Braga Netto,
braços direito e direito de Bolsonaro, eram admiradores de Augusto Pinochet,
ditador, genocida, falsário e ladrão. Os generais Villas Boas, inspirador da nova
onda golpista, e Hamilton Mourão, ex-vice-presidente e ora senador, admiravam
Olavo de Carvalho (1947-2022), um índice de inteligência e de apreço pela
democracia, por assim dizer. Mas quantos golpistas haveria na ativa?
Luiz Inácio Lula da Silva
herdou essa encrenca mortal de Michel Temer e Bolsonaro, entre outras. É
preciso que os militares voltem a uma caserna limpa de golpismo (e, aliás, que
o STF volte ao Judiciário e os parlamentares, que querem governar, ao
Legislativo).
Lula tem administrado a nova questão
militar com habilidade, mas o buraco fica mais para baixo. Uma reforma
institucional profunda é necessária. Politicamente minoritário e com problema
de tanta espécie, vai ser muito difícil.
2 comentários:
Brilhante! Um presidente das trevas, uma quadrilha de militares falsários, golpistas entre os melhores alunos da AMAN, generais apoiando e incentivando ideias golpistas, um general ministro da Saúde durante a pior pandemia das últimas décadas que nada entendia de SUS e saúde... O que os militares fariam com o Poder? Dar um golpe pra seguir obedecendo as ordens dum incompetente criminoso?
Uma loucademia de polícia tupiniquim.
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