Correio Braziliense
Dono de um estilo "lacrador",
Flávio Dino assumiu a linha de frente da defesa do presidente Lula após a
tentativa de golpe de 8 de janeiro. Por isso, seu nome agrada muito aos
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)
O presidente Lula não levou em conta as
pressões do PT e anunciou, nesta segunda-feira, as indicações do ministro da
Justiça, Flávio Dino, para o Supremo Tribunal Federal (STF), e do procurador
Paulo Gustavo Gonet Branco à Procuradoria-Geral da República (PGR). Os dois
eram nomes muito cotados para o cargo, mas sofreram com o "fogo
amigo" do PT, principalmente Dino. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), anunciou que os dois nomes serão apreciados até 15 de dezembro.
O primeiro obstáculo à aprovação dos nomes é a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), presidida pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP), que se aliou à bancada de oposição para voltar à Presidência do Senado. Nos bastidores do Senado, os senadores bolsonaristas já se articulam para tentar barrar a aprovação do nome de Flávio Dino. A rejeição de Igor Roberto Albuquerque Roque para o cargo de defensor público-geral federal da Defensoria Pública da União (DPU), por 35 votos a favor e 38 contrários, além de uma abstenção, em outubro passado, foi o recado de que Dino terá dificuldades.
Para a aprovação do nome de Dino são
necessários 41 votos. Não é uma missão impossível obter apoio da maioria dos
senadores, mas há um rito a ser cumprido: o beija-mão dos senadores por parte
dos indicados, gabinete por gabinete. Um senador eleito teria mais facilidades,
mas acontece que Flávio Dino logo se licenciou do cargo para ser ministro da
Justiça, não tem amplo trânsito entre os pares.
Quando o nome de Dino passou a ser cotado
para o STF, logo se armou contra ele uma campanha dos bolsonaristas nas redes
sociais, retroalimentada pelo "fogo amigo" petista.
Dono de um estilo "lacrador", Dino
assumiu a linha de frente da defesa do presidente Lula após a tentativa de
golpe de 8 de janeiro. Por isso, seu nome agrada muito aos ministros do Supremo
Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, atual presidente da
Corte. Essa sintonia se manteve desde então e foi decisiva para sua indicação.
A questão é saber se Lula costurou a indicação com o presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco, e o presidente da CCJ, Alcolumbre. Supõe-se que sim, pois Lula
não faria essa indicação para "queimar" seu ministro da Justiça.
Para interlocutores, Lula manteve distância
regulamentar em relação à polêmica PEC que limita os poderes monocráticos dos
ministros do Supremo para agradar a Pacheco e Alcolumbre, embora o STF tenha
reagido duramente à decisão do Senado.
Dino é um ex-juiz que deixou a toga para ser
político, elegendo-se governador do Maranhão pelo PCdoB, partido que trocou
pelo PSB. Desde que seu nome surgiu como opção, enfrentou a concorrência do
advogado-geral da União, Jorge Messias, apoiado pelo PT, e do presidente do
Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, apoiado pelo MDB. Ambos
saudaram sua indicação.
Ministério Público
Agora, está aberta a disputa pela vaga de
Dino na Esplanada. O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo
Cappelli, nunca escondeu o desejo de substituir o chefe. Mas o PT tem um forte
candidato à pasta: o advogado Marco Aurélio Carvalho, coordenador do grupo
Prerrogativas, que teve importante atuação na campanha eleitoral de Lula.
Na montagem da equipe ministerial, porém,
acabou preterido por Dino. A saída salomônica defendida pelo PT é a divisão do
ministério em duas pastas: Justiça e Segurança Pública. A primeira ficaria com
Carvalho, a segunda, com Cappelli, que, desde o 8 de janeiro, vem se destacando
nessa área.
A aprovação do nome de Dino pelo Senado
pressupõe algum risco por causa de suas posições políticas e combatividade, que
tendem a reforçar o grupo de ministros do STF acusado de "extrapolar"
suas atribuições em relação aos demais Poderes.
O ministro da Justiça, por exemplo, fez uma
veemente defesa do Supremo e criticou o Senado por aprovar a PEC que limita os
poderes monocráticos dos ministros, num momento em que os senadores desejam
também limitar os mandatos do Supremo, seja ao estabelecer uma idade mínima
para seus ministros, seja seu tempo de duração.
Em contrapartida, a aprovação do nome do
subprocurador-geral Paulo Gustavo Gonet Branco para o cargo de procurador-geral
da República é mais tranquila. É a primeira vez que Lula não escolhe um dos
integrantes da lista tríplice elaborada pela associação dos procuradores; nos
mandatos anteriores, o petista indicou o mais votado. Desde 2001, as listas
tríplices elaboradas pela Associação Nacional dos Procuradores da República
(ANPR) subsidiaram as indicações.
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi o primeiro
a desconsiderar a lista ao indicar o procurador-geral Augusto Aras. Gonet é
integrante da cúpula do MPF e responde como vice-procurador-geral eleitoral
desde 2021. Enfrentará a oposição dos bolsonaristas no Senado, por causa do seu
parecer a favor da inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado
pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Entretanto, é católico e conservador,
por exemplo, no tema do aborto.
Um comentário:
Eu sou contra aborto até em animal,mas que aborto é uma questão de saúde pública é.
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