Correio Braziliense
A responsabilidade está sendo transferida
para os países com grandes extensões de florestas (sumidouros naturais de
carbono), que podem mitigar a poluição produzida no Hemisfério Norte
Na adolescência, o sonho do jovem deputado
federal Amom Mandel (Cidadania-AM), hoje um campeão de votos aos 22 anos (foi
eleito por 288.555 eleitores), era participar de uma Conferência do Clima da
Organização das Nações Unidas (ONU), a COP. Por isso, ser um dos parlamentares
que representaram o Congresso brasileiro na COP28, em Dubai, parecia ser a
realização desse grande objetivo para quem é um ativista ambiental desde os 12
anos.
Idealizador do Projeto Galho Forte, com objetivo de transformar Manaus numa cidade verde e sustentável, Amom dedica parte dos fins de semana às comunidades ribeirinhas, limpeza de rios e plantio de árvores frutíferas, com a distribuição de mudas cuja meta é chegar a uma árvore por voto que recebeu. Como vereador, em dois anos de mandato, plantou 7.537 arvores, equivalentes à sua votação em 2020, quando fora eleito.
O jovem parlamentar voltou de Dubai muito
decepcionado. “Fiz questão de percorrer todas as salas. A maioria reunia meia
dúzia de pessoas, entre as quais o orador com a palavra e aquele que o
sucederia, embora os temas fossem muito importantes”, disse.
O Brasil levou uma grande delegação, com
inédita participação de representantes indígenas. Mas “a discussão de fundo
ficou restrita aos representantes oficiais dos países e não enfrentou, como
deveria, a questão dos combustíveis fosseis”. Esse desfecho explica os
sentimentos de Amom, que denuncia sistematicamente a gravidade do impacto do
aquecimento global, do desmatamento e das queimadas no Amazonas, que
transformou Manaus numa das cidades mais poluídas do mundo.
O acordo final da 28ª conferência do clima da
Organização das Nações Unidas é considerado apenas um pequeno avanço em relação
à questão central do clima: a redução gradual do uso de combustíveis fósseis
(petróleo, carvão e gás natural) para diminuir a emissão de gases de efeito
estufa, responsáveis pelas mudanças climáticas, que têm impactado o planeta e
alteram o clima na Amazonia, tanto quanto o desmatamento.
O texto não define como será a transição
energética, quais recursos financeiros serão utilizados e, principalmente, não
fala em eliminar totalmente os combustíveis fósseis. A necessidade de reduções
profundas, rápidas e sustentadas da emissão de carbono, caso a humanidade
queira limitar o aumento da temperatura global em 1,5°C, é uma constatação
cientificamente comprovada, mas não foram levadas em devida conta pelos
representantes de 195 nações.
Cientistas e ambientalistas de todas as
nacionalidades estão frustrados com isso. Encerrada ontem, a COP28 foi
convocada para estabelecer o fim do uso dos combustíveis fósseis na produção de
energia. O documento final até aponta, pela primeira vez, a necessidade de uma
transição energética, mas não leva em conta a meta da ONU de extinguir o uso
desses poluentes até 2050.
Carvão e gás
O acordo determina que os países devem se
“afastar dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos”, sem determinar
como isso deve acontecer. Responsável pela geração de 37% da eletricidade no
mundo, o carvão é responsável por 30% do efeito estufa, mas, sobre isso, a
resolução retrocede em relação à COP26.
Os combustíveis de transição podem
desempenhar um papel importante para a transição energética, garantindo
segurança, mas foram tratados genericamente. O acordo afirma apenas que os
países devem acelerar o uso de sistemas de energia com emissões zero ou baixas,
utilizando tecnologias renováveis, nucleares e de captura e armazenamento de
carbono. Ou seja, abre a brecha para o gás natural, que produz dióxido de
carbono (CO²). Quem mais ganha com isso é a Rússia.
Na questão da captura de carbono, houve
avanço ao defender tecnologias com zero ou baixa emissão de carbono para fazer
a transição energética. A captura pode minimizar o impacto dos gases do efeito
estufa. Empresas e países têm desenvolvido diferentes tecnologias para reter,
armazenar e transformar o carbono retirado da atmosfera em outras substâncias,
como o bicarbonato de sódio.
Os ambientalistas criticam a falta de
investimentos dos países desenvolvidos nesse setor. A responsabilidade está
sendo transferida para os países com grandes extensões de florestas (sumidouros
naturais de carbono), que podem mitigar a poluição produzida principalmente no
Hemisfério Norte. Mas precisam de investimentos dos países mais ricos e
poluidores.
Um comentário:
Verdade.
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