terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Zevi Ghivelder - O plano oculto de Netanyahu

O Globo

Ele formulou uma reforma por meio da qual o Parlamento passaria a ter o poder de revisar as resoluções da Suprema Corte

Para entender os posicionamentos irredutíveis de Benjamin Netanyahu, é preciso situá-lo no contexto de sua doutrinação ideológica. Ele é adepto do sionismo revisionista, formulado em Odessa pelo ativista e pensador Zeev Jabotinsky (1880-1940) na primeira metade do século passado. O revisionismo foi adotado pelo Irgun, organização clandestina judaica que combateu com armas os ingleses durante o mandato britânico na antiga Palestina. Com a independência de Israel, o Irgun deu origem ao partido político Herut, que originou o Likud, atual partido de Netanyahu.

O movimento revisionista pregava a implementação de uma nação judaica em seu território ancestral, se necessário pela força, na então Palestina Otomana, incluindo desde a fronteira leste da atual Cisjordânia até o Mar Mediterrâneo.

O traçado da Partilha da ONU, de 1947 — conferindo a Israel um trecho somente do Rio Jordão até o oceano —, foi respeitado durante 20 anos, até o país ser atacado pela Jordânia na Guerra dos Seis Dias. A derrota da Jordânia determinou a ocupação da Cisjordânia. Dessa ocupação resultou a instalação pontual de assentamentos como postos avançados de defesa.

Netanyahu assumiu o poder em 2009, decidiu pôr em prática a doutrina expansionista do revisionismo, incrementando a instalação frenética de assentamentos ocupados por judeus ortodoxos, condição que fortalecia suas coalizões com os partidos religiosos para formar maiorias parlamentares e gabinetes governamentais.

Netanyahu passou a chamar biblicamente a Cisjordânia palestina como Judeia e Samaria, alusão ao apogeu dos reinados de Davi e Salomão. Essa reivindicação territorial se baseou numa argumentação esdrúxula em termos do século XXI: eram terras concedidas por Deus ao povo judeu, portanto deveriam pertencer ao Estado de Israel.

Atrás dessa retórica, Netanyahu desenvolvia seu plano oculto de anexar a Cisjordânia, apesar da previsível oposição dos Estados Unidos e da comunidade internacional. Havia, porém, um obstáculo ainda maior: a Suprema Corte de Israel, que, por força de sua tradição e respeito à ordenação jurídica, decerto anularia qualquer medida referente à anexação.

Foi por isso que, ao retornar ao poder em novembro de 2022, Netanyahu formulou uma reforma judiciária por meio da qual o Knesset (Parlamento) passaria a ter o poder de revisar as resoluções da Suprema Corte. Quer dizer: uma decisão da Corte de anular qualquer anexação seria rejeitada pelo Parlamento. O plano oculto de Netanyahu assim obteria um grande triunfo.

Há dias, a Suprema Corte de Israel anulou a reforma judiciária no país. Ela seria o primeiro passo na marcha da insensatez de Netanyahu. O fim da guerra em Gaza determinará o fim de sua carreira política.

*Zevi Ghivelder é jornalista

 

2 comentários:

Anônimo disse...

A DEMOCRACIA PRECISA AFASTAR NETANYAHO E O HAMAS

■■■Quase sempre o que alimenta um extremismo é haver outro extremismo em chave oposta atuando sobre as mesmas causas; e com os dois agindo concomitantes, os extremismos se retroalimentam.

No Corredor Palestino, o Hamas alimenta Netanyaho e Netanyaho alimenta o Hamas.

■■■Em sociedades democráticas como a de Israel, um líder extremista como Netanyaho só consegue força política e eleitoral por causa da presença de extremistas como os do Hamas entre os palestinos.

Como o objetivo previsto originalmente no Estatuto do Hamas é a destruição de Israel, os israelenses passam a ver Netanyaho como opção para o enfrentamento ao Hamas.

■■Com a reação vigorosa da ultra-democrática sociedade israelense à reforma judicial que tentou para anular poderes da seriíssima Corte Suprema de seu país e assim se liberar ainda mais para exercer extremismos, a derrota de Netanyaho como 1° Ministro estava dada. O que permitiu alguma sobrevida a Netanyaho foram os atos do Hamas, ao mais uma vez entrar em Israel, degolar e sequestrar pessoas.

■■■A solução para qualquer problema político começa pelo afastamento de extremismos, se extremismos existirem explícitos ou disfarçados.

A solução para o problema entre Israel e Palestinos só virá com o esvaziamento do poder de Netanyaho e com o enfraquecimento do poder dos terroristas do Hamas.

Com Neranyaho a solução será mais fácil por causa do vigor da democracia de Israel, que com a diminuição da ameaça terrorista que sofre tende a afastar o atual 1° ministro e seu extremismo; já para o Hamas só há a solução militar.

■■■O custo em combater o Hamas é muito doloroso, pelas consequências que tem para os civis devido à perversidade dos terroristas de usar os corpos do civis para se protegerem. Como uma solução para o problema só é possível se os extremismos forem todos combatidos, e é o Hamas que alimenta Netanyaho, é preciso que desta vez os que sempre protegem os terrorista não consigam impedir que o Hamas seja combatido.

Edson Luiz Pianca

Daniel disse...

Oculto??? Só para jornalistas desinformados... A estratégia de Netanyahu estava ESCANCARADA e era sabida por qualquer pessoa que acompanha com alguma atenção a situação do Oriente Médio.