O Globo
Ele formulou uma reforma por meio da qual o
Parlamento passaria a ter o poder de revisar as resoluções da Suprema Corte
Para entender os posicionamentos irredutíveis
de Benjamin
Netanyahu, é preciso situá-lo no contexto de sua doutrinação
ideológica. Ele é adepto do sionismo revisionista, formulado em Odessa pelo
ativista e pensador Zeev Jabotinsky (1880-1940) na primeira metade do século
passado. O revisionismo foi adotado pelo Irgun, organização clandestina judaica
que combateu com armas os ingleses durante o mandato britânico na antiga
Palestina. Com a independência de Israel, o Irgun deu origem
ao partido político Herut, que originou o Likud, atual partido de Netanyahu.
O movimento revisionista pregava a
implementação de uma nação judaica em seu território ancestral, se necessário
pela força, na então Palestina Otomana, incluindo desde a fronteira leste da
atual Cisjordânia até
o Mar Mediterrâneo.
O traçado da Partilha da ONU, de 1947 — conferindo a Israel um trecho somente do Rio Jordão até o oceano —, foi respeitado durante 20 anos, até o país ser atacado pela Jordânia na Guerra dos Seis Dias. A derrota da Jordânia determinou a ocupação da Cisjordânia. Dessa ocupação resultou a instalação pontual de assentamentos como postos avançados de defesa.
Netanyahu assumiu o poder em 2009, decidiu
pôr em prática a doutrina expansionista do revisionismo, incrementando a
instalação frenética de assentamentos ocupados por judeus ortodoxos, condição
que fortalecia suas coalizões com os partidos religiosos para formar maiorias
parlamentares e gabinetes governamentais.
Netanyahu passou a chamar biblicamente a
Cisjordânia palestina como Judeia e Samaria, alusão ao apogeu dos reinados de
Davi e Salomão. Essa reivindicação territorial se baseou numa argumentação
esdrúxula em termos do século XXI: eram terras concedidas por Deus ao povo
judeu, portanto deveriam pertencer ao Estado de Israel.
Atrás dessa retórica, Netanyahu desenvolvia
seu plano oculto de anexar a Cisjordânia, apesar da previsível oposição
dos Estados
Unidos e da comunidade internacional. Havia, porém, um
obstáculo ainda maior: a Suprema Corte de Israel, que, por força de sua
tradição e respeito à ordenação jurídica, decerto anularia qualquer medida
referente à anexação.
Foi por isso que, ao retornar ao poder em
novembro de 2022, Netanyahu formulou uma reforma judiciária por meio da qual o
Knesset (Parlamento) passaria a ter o poder de revisar as resoluções da Suprema
Corte. Quer dizer: uma decisão da Corte de anular qualquer anexação seria
rejeitada pelo Parlamento. O plano oculto de Netanyahu assim obteria um grande
triunfo.
Há dias, a Suprema Corte de Israel anulou a
reforma judiciária no país. Ela seria o primeiro passo na marcha da insensatez
de Netanyahu. O fim da guerra em Gaza determinará o fim de sua carreira
política.
*Zevi Ghivelder é jornalista
2 comentários:
A DEMOCRACIA PRECISA AFASTAR NETANYAHO E O HAMAS
■■■Quase sempre o que alimenta um extremismo é haver outro extremismo em chave oposta atuando sobre as mesmas causas; e com os dois agindo concomitantes, os extremismos se retroalimentam.
No Corredor Palestino, o Hamas alimenta Netanyaho e Netanyaho alimenta o Hamas.
■■■Em sociedades democráticas como a de Israel, um líder extremista como Netanyaho só consegue força política e eleitoral por causa da presença de extremistas como os do Hamas entre os palestinos.
Como o objetivo previsto originalmente no Estatuto do Hamas é a destruição de Israel, os israelenses passam a ver Netanyaho como opção para o enfrentamento ao Hamas.
■■Com a reação vigorosa da ultra-democrática sociedade israelense à reforma judicial que tentou para anular poderes da seriíssima Corte Suprema de seu país e assim se liberar ainda mais para exercer extremismos, a derrota de Netanyaho como 1° Ministro estava dada. O que permitiu alguma sobrevida a Netanyaho foram os atos do Hamas, ao mais uma vez entrar em Israel, degolar e sequestrar pessoas.
■■■A solução para qualquer problema político começa pelo afastamento de extremismos, se extremismos existirem explícitos ou disfarçados.
A solução para o problema entre Israel e Palestinos só virá com o esvaziamento do poder de Netanyaho e com o enfraquecimento do poder dos terroristas do Hamas.
Com Neranyaho a solução será mais fácil por causa do vigor da democracia de Israel, que com a diminuição da ameaça terrorista que sofre tende a afastar o atual 1° ministro e seu extremismo; já para o Hamas só há a solução militar.
■■■O custo em combater o Hamas é muito doloroso, pelas consequências que tem para os civis devido à perversidade dos terroristas de usar os corpos do civis para se protegerem. Como uma solução para o problema só é possível se os extremismos forem todos combatidos, e é o Hamas que alimenta Netanyaho, é preciso que desta vez os que sempre protegem os terrorista não consigam impedir que o Hamas seja combatido.
Edson Luiz Pianca
Oculto??? Só para jornalistas desinformados... A estratégia de Netanyahu estava ESCANCARADA e era sabida por qualquer pessoa que acompanha com alguma atenção a situação do Oriente Médio.
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