Folha de S. Paulo
Ex-presidente quer convencer eleitores e
aliados de que há mais em jogo do que apenas a possível prisão de seu líder
Jair
Bolsonaro não pediu que ninguém fosse às ruas quando o TSE declarou
sua inelegibilidade.
Como não havia eleição no dia seguinte, a turma do ex-presidente preferiu não
cutucar o tribunal. Algumas batidas da PF parecem ter mudado o cálculo.
A ideia de organizar uma manifestação no dia 25 indica que Bolsonaro se vê diante de uma ameaça mais próxima. A enxurrada de provas sobre os preparativos de um golpe levaram o ex-presidente a convocar um agrupamento de emergência para reagir às investigações ou ao menos amortecer seu impacto político.
Uma especialidade de Bolsonaro é causar
tumulto na arquibancada quando está perdendo o jogo. Foi assim que ele
tentou pressionar o Congresso no início do governo, peitar o STF durante a
pandemia e agitar apoiadores para contestar uma derrota que se desenhava nas
urnas.
Agora, o objetivo é acordar uma base de
eleitores que perdeu coesão após a saída do poder e convencer esses grupos de
que é preciso brigar não apenas contra a eventual prisão de seu líder, mas pela
sobrevivência de um projeto político.
A lógica é vulgar. Com alguns quarteirões
ocupados por apoiadores, Bolsonaro lembraria ao STF que a condenação de um
político popular tem um custo. Seria uma tentativa de intimidar o tribunal com
o prenúncio de alguma perturbação.
O ex-presidente aproveita para fazer um teste
de fidelidade de aliados que se beneficiaram de sua popularidade e,
depois, tomaram
distância. Com a chamada pública, ele espera a adesão de congressistas e
governadores que poderiam integrar um movimento de pressão institucional.
Hoje, a capacidade de mobilização do
bolsonarismo é incerta —o último grande ato, afinal, ocorreu em 8 de
janeiro de 2023. Ainda assim, o ex-presidente pode fazer barulho com
eleitores fiéis e o patrocínio de grandes corporações evangélicas. Será pouco
para evitar um acerto de contas com a Justiça, mas será melhor enfrentar o
desfecho dessa ação como um líder popular do que como um político em desgraça.
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