terça-feira, 12 de março de 2024

Andrea Jubé - Lula lidera exército de um homem só, e erra o alvo

Valor Econômico

Para analista, um dos principais fatores do derretimento do governo nas pesquisas é o erro na estratégia de comunicação

Um observador experiente da conjuntura política, com trânsito livre no Palácio do Planalto, comparou a queda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas recentes à queda de um avião.

A metáfora pode soar sensível, até mesmo trágica, mas é adequada: acidentes desta gravidade decorrem de uma conjunção de fatores, e não de uma causa isolada, argumentou a fonte, que pediu anonimato, em conversa com a coluna.

Na visão deste analista um dos principais fatores do derretimento do governo Lula nas pesquisas é o erro na estratégia de comunicação. “O governo é um exército de um homem só”, ponderou. “Só o Lula se comunica no governo, e, ainda assim, tem errado, e está ultrapassado na forma de se comunicar”, criticou.

Para este analista é preciso que auxiliares de Lula do primeiro escalão incrementem as ferramentas de comunicação e dialoguem mais com os brasileiros. Ele está correto. No domingo, o jornal “O Globo” publicou levantamento da consultoria Bites demonstrando que nenhum dos 38 ministros ocupou o espaço nas redes sociais deixado pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino, após a posse dele no Supremo Tribunal Federal (STF).

Até mesmo lideranças petistas, que viam Dino com reservas (porque ele seria potencial candidato à sucessão presidencial), admitem, em conversas privadas, que ele era o único ministro a fazer a disputa política e a defesa do governo nas redes sociais.

Pelo estilo combativo, a Bites mostrou que Dino conseguiu 18,8% de tração (medidor desenvolvido pela consultoria em termos de propagação de ondas nas diversas plataformas), enquanto o ministro que mais se aproximou desse desempenho foi Camilo Santana, da Educação, com 12% de tração. Em terceiro lugar, despontou o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, com 9,14%.

O mesmo analista sustentou que a comunicação do governo deve ser segmentada, o que não vem ocorrendo. Afirmou que se é preciso investir em uma campanha sobre o Bolsa Família, os anúncios devem circular mais vezes, e para um público maior, em Estados das regiões Norte e Nordeste, onde se concentram os beneficiários, e com ênfase menor nas outras regiões, onde o programa é visto com restrições.

Para esta fonte, um erro lamentável foi a falta de uma campanha antecipada sobre o projeto de lei que define regras e estabelece direitos para o trabalho dos motoristas de aplicativos, como Uber ou 99. A proposta foi levada a público em solenidade no Planalto, com Lula e o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, no dia 4 de março.

Embora as empresas tenham se manifestado, endossando a iniciativa, a proposta não foi bem recebida pelos motoristas.

Em comunicados, a Federação Brasileira de Motoristas de Aplicativos (Fembrapp) e a Associação dos Motoristas de Aplicativos de São Paulo (Amasp) disseram que o projeto é prejudicial à categoria. Em paralelo, grupos ligados ao bolsonarismo têm disseminado “fake news” de que o governo Lula vai dificultar o empreendedorismo. Diante deste cenário, em breve serão lançadas peças publicitárias do governo explicando o projeto de lei. “A comunicação do governo está correndo atrás dos fatos, quando o correto é se antecipar a eles”, criticou a fonte.

Em conversa com o Valor publicada no dia 4 de março, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, reconheceu que a falta de uma comunicação segmentada, principalmente nas redes sociais, é um problema, e que pretende contorná-lo com a contratação de serviços para a comunicação digital, que estão em fase de licitação.

Outro impasse é a relação com os evangélicos, que representam um terço da população, e estão majoritariamente conectados ao bolsonarismo. Um exemplo citado por Pimenta para estabelecer uma conexão com esse público foi a escolha de um cantor gospel popular, Kleber Lucas, para gravar o jingle de final de ano, “Um só povo”, veiculado em dezembro. Pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta-feira revelou que o governo é reprovado por 62% dos evangélicos.

O mesmo observador político, que frequenta o Planalto, ponderou que a reprovação, pela maioria dos 2 mil entrevistados pela pesquisa Genial/Quaest, divulgada na quarta-feira, à comparação feita por Lula da ofensiva bélica de Israel, sob o premier Benjamin Netanyahu, com o holocausto judeu teve peso na queda nas pesquisas, mas não com a influência que se tem atribuído ao episódio.

Esta fonte argumentou que Lula, no contexto da guerra na Faixa de Gaza, assumiu, isoladamente, o protagonismo na ofensiva contra líderes de extrema direita, que se posicionam ao lado de Netanyahu. Pondera que o líder petista deveria agregar outras lideranças globais, forças políticas moderadas, ao seu lado. “Ele está apanhando sozinho”, criticou. Somente há poucos dias o presidente americano Joe Biden acusou o governo de Israel de “prejudicar mais do que ajudar” na guerra.

A fonte faz outras ponderações, como as de que os índices positivos da economia ainda não se refletiram na vida real dos brasileiros. O governo comemorou o aumento real do salário mínimo, mas esta fonte alerta que “um aumento de R$ 92 no salário mínimo não vai mudar a vida de ninguém”.

 

2 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

Verdade.

Jorge disse...

Aumento real de salário, dcom com com zero de aumento real.e R$ 92,00 é pouco para quem ganha mais. Porém, para quem vive com apenas um salário mínimo, representa cerca de 10 quilos de pão francês, no mês. Para o pobre isto já faz diferença. Especialmento se comparado
com zero de aumento real.