O Estado de S. Paulo
A extrema direita internacional avança e tem uma arma poderosa, a internet. Cadê a resistência?
Assim como Donald Trump minou a confiança
popular em sua adversária Hillary Clinton e tentou transformá-la em corrupta
por ter usado e-mails oficiais para mensagens particulares – fichinha perto do
que ocorre por essas bandas de cá –, a extrema direita da Espanha ataca e
calunia a mulher do primeiro-ministro Pedro Sánchez, Begoña Gómez, como forma
de desgastar e tentar derrubar o governo socialista, aliado à direita não
extremista.
As redes sociais, dominadas pela extrema direita e por algoritmos, elegeram Trump nos EUA, deram vitória ao Brexit na Inglaterra, alavancaram Jair Bolsonaro no Brasil, garantiram Javier Milei na Argentina e estão por trás de partidos e movimentos radicais na Itália, Alemanha, Hungria, Polônia, na própria Espanha, com o Vox, e até no equilibrado Portugal, com o Chega. Há quem ache a força crescente da extrema direita e da internet uma “bobagem”. Há controvérsias.
O presidente Lula avalia como preocupante e
que o Brasil, o mais rico país da América Latina, com uma polarização insana
entre esquerda e bolsonarismo, está no alvo. Elon Musk, do X, atacou Alexandre
de Moraes, o Supremo e a democracia brasileira; Milei fez juras de amor a ele e
endossou as suas investidas; e Israel Katz, chanceler de Israel, deixou claro
quem está realmente na mira:
“Se alguém deveria ser bloqueado ou censurado
no X, deveria ser você, @Lulaoficial. Você tem o hábito de censurar e distorcer
a verdade, então não é surpresa que esteja tentando censurar os outros”,
escreveu.
Enquanto articula golpes de Estado, a extrema
direita inverte a realidade e acusa os adversários, de centro e de esquerda, de
ameaça à democracia, à liberdade de expressão, à oposição, sem abdicar de
velhas bandeiras que Bolsonaro, por exemplo, usou e abusou nas duas campanhas
presidenciais e nos quatro anos de mandato, da boca para fora: Deus, Pátria e
família.
Lula vem conversando com o francês Emmanuel
Macron, o português Marcelo Rebelo de Sousa e o espanhol Pedro Sánchez, a quem
defendeu ostensivamente dos ataques da extrema direita. Depois de uma forte
resistência democrática no Brasil, que uniu da esquerda à direita
contemporânea, é hora de articular a resistência internacional, ainda muito
incipiente. A extrema direita é articulada e tem uma arma poderosa, a internet.
O outro lado parece estar dormindo no ponto.
MUJICA. Pepe Mujica, que defendeu liberdade,
democracia, igualdade, honestidade e diálogo toda a vida, anunciou, aos 88
anos, que tem câncer de esôfago, com metástase. Que falta fazem os Mujicas! •
2 comentários:
Muito bom! Mas, como a colunista não deu nome aos bois, sigo desconhecendo quem acha "bobagem" a força crescente da extrema direita e da internet.
Pois é...
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