O Globo
Boas notícias de aumento de renda e na safra
surgem na economia, enquanto na política, o governo enfrenta pautas bombas e
gritaria da extrema direita
O almoço do presidente Lula com
alguns ministros e os líderes no Congresso já começou com as notícias do
apaziguamento do presidente da Câmara, Arthur Lira.
Isso é bom, mas do Senado é que veio o sinal mais pesado da semana. A aprovação
na CCJ da volta do quinquênio para os magistrados é uma enorme bomba fiscal.
Era a sexta-feira de uma semana em que houve instabilidade internacional,
volatilidade da moeda, mudança na meta fiscal, ruídos com o Congresso, avanços
do delírio da direita de que o Brasil é uma ditadura.
Enquanto há barulho em várias áreas e previsões piores nas contas públicas, a economia tem boas notícias. O IBGE informou que a massa de rendimento real aumentou 12,2% no ano passado, em relação a 2022, e que os 5% mais pobres tiveram o maior aumento da renda, 38,5%. A FGV calculou que a miséria está em seu menor nível da história.
Na agricultura, a quebra de safra pode ser
bem menor do que está sendo previsto. Esta boa notícia nem está ainda no radar
do governo. A Conab espera uma queda de 8% na safra de grãos prevendo uma
colheita de 294 milhões de toneladas. A consultoria MB Agro, que tem um
histórico de acertos, é mais otimista. Acha que a queda será só de 2%, e a
safra será de 312,5 mil toneladas, ou seja, 18 milhões a mais de toneladas.
Como resultado, os preços de diversos alimentos já estão caindo fortemente no
atacado. Do começo do ano até o dia 18 de abril, milho caiu 26%, feijão, 26%,
óleo de soja, 21%, frango, 4,3%, boi gordo, 16,5%. Isso indica que no varejo
também haverá alívio.
Enquanto as boas notícias surgiam na
economia, em emprego, renda e produção, o mundo da política ficava em tumulto a
semana inteira. A extrema direita ganhou aliados de peso para o delírio de que
no Brasil a liberdade de expressão está em risco. Algumas bombas fiscais
avançaram. O presidente Lula convocou essa reunião de emergência na sexta com
os líderes e alguns ministros do Palácio. Mas nada teve de emergência, segundo
me contaram. Trataram da pauta normal mesmo e o melhor resultado foi Lula
decidir conversar diretamente com os presidentes da Câmara e do Senado, talvez
durante o fim de semana. Lira vociferou várias vezes nos últimos dias, mas
Pacheco tem aprovado medidas contra a agenda do atual governo. Essa semana, o
Congresso vai se reunir para analisar os vetos do presidente. É certo que Lula
terá novas derrotas, como a derrubada dos vetos no projeto das “saidinhas”.
Há várias pressões por aumento de gastos. O
mais assustador é o projeto do quinquênio da magistratura, que eleva o salário
de forma permanente, com novos reajustes contratados para cada cinco anos. É a
elite do funcionalismo público. Isso no meio de pressões de aumentos salariais
de várias categorias de servidores. Perguntei a um participante da reunião de
sexta-feira se essa PEC foi tratada como uma pauta bomba, e ele respondeu.
“Pior do que isso, desmoraliza todo o ajuste fiscal”. A avaliação do governo é
a de que não há voto para aprovar em plenário. Mesmo assim é preciso estar
atento porque terá efeito cascata, dos ministros da Suprema Corte até os juízes
de primeira instância. O valor calculado é R$ 40 bilhões por ano. Foi definida
por um participante da reunião como “uma velha reivindicação dos juízes, que
o Luiz Fux encampou
quando presidia o Supremo e agora Pacheco assumiu como sua”.
Lula estimulou os líderes, deputado José
Guimarães, senadores Randolfe
Rodrigues e Jaques Wagner a
“animar a tropa”, e se contrapor à direita e extrema direita que têm ocupado a
tribuna para ataques ao governo. A avaliação é que a oposição mais estridente e
extremista está ganhando todas as “batalhas das narrativas”. Chega ao ponto de
o grupo que urdiu a maior ameaça à liberdade no Brasil, apresentar-se como o
paladino da liberdade.
A oposição sequestrou o debate. Em vez de
estar envolvido em discussões sérias sobre maneira de fazer o país crescer,
como proteger os vulneráveis, qual é a melhor política pública em diversas
áreas, o país fica ouvindo que o fim da saidinha é política de segurança, que é
um avanço colocar na Constituição que o porte de qualquer quantia de maconha é
crime, e que o Brasil é uma ditadura.
Alguns indicadores econômicos estão tendo
melhoras, o ruído político está mais estridente, o mundo mais instável e a
desconfiança do mercado em relação às contas públicas aumentou. Está mais
difícil administrar o Brasil.
Um comentário:
Verdade.
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