Folha de S. Paulo
Os Poderes se atritam no Brasil, e os
poderosos confraternizam sob sigilo no exterior
Vejam como são as coisas: os Poderes da
República se atritam no Brasil de modo transparente enquanto os poderosos confraternizam
no exterior em ambiente de obscuridade nada republicana.
Isso sob a égide
do sigilo quanto a quem paga,
por que paga e a quais propósitos atendem os patrocinadores de convescotes no
circuito Londres-Paris-Nova York-Madri-Lisboa.
Alega-se, para tal, a necessidade de estreitar relações entre os setores público e privado, mas não se faz isso por aqui mesmo ou em cenários menos propícios ao deleite dos participantes.
Uma vez um dos participantes perguntou sobre
isso ao ex-governador João Doria,
um dos idealizadores desse tipo de encontro, e ouviu o seguinte: reuniões no
Brasil ou muito perto daqui não teriam o mesmo poder de atração. Ou seja, o
pessoal quer aproveitar a viagem na toada da curtição da festa, muito mais que
na discussão dos temas propostos.
Sob o ponto de vista recreativo, com alguns
senões seria até possível concordar não fosse o fato de que estamos falando da
atitude de autoridades.
Personalidades essas submetidas aos preceitos
da Constituição,
cujo artigo 37 diz entre outros preceitos que a publicidade, a impessoalidade e
a moralidade devem reger condutas de todos os agentes, diretos e indiretos, da
administração pública. Note-se: "em qualquer dos Poderes".
Dos eventos realizados sob o segredo a
respeito de quem os paga, impedindo que sejam detectados possíveis conflitos de
interesses entre as partes, participam integrantes dos três Poderes. Isso
suscita cobrança a todos eles, mas no caso do Judiciário a falta de cerimônia
choca muito mais.
Alcança colegiado cuja prerrogativa é a
palavra definitiva sobre contenciosos da República. Os magistrados do STF julgam
os outros à luz da Constituição. Portanto, seu cumprimento exige que estejam em
atos e palavras submetidos à Lei Maior que, por ora, vários
deles mandam às favas.
Um comentário:
Só sei que nada sei.
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