terça-feira, 7 de maio de 2024

Eliane Cantanhêde - A união faz a força

O Estado de S. Paulo

A tragédia no Sul conseguiu, e Madonna ilustrou, o que Lula quis e não fez: união nacional

A tragédia do Rio Grande do Sul, a maior da história do Estado, e o megashow da Madonna em Copacabana, o quinto mais concorrido do planeta, servem como lembrança de algo que há muito anda esquecido, ou desdenhado, no Brasil: a união faz a força de uma nação e a radicalização não leva a nada. Todos os lados se uniram para socorrer o Estado e para ver Madonna.

A crise entre os Poderes sucumbiu ao desastre do Sul, que uniu no mesmo avião e na mesma foto os presidentes Lula, Arthur Lira, da Câmara, e Rodrigo Pacheco, do Senado, além do vice-presidente do STF, Edson Fachin.

Simbologia: acima de ideologias, partidos e interesses, institucionais ou pessoais, está a responsabilidade pública, com Estados, municípios, cidadãos.

No show de Madonna, regado a irreverência, sensualidade, igualdade e homenagens aos grandes, inclusive do Brasil, a meninada de amarelo entrou sambando e a ícone do pop desfraldou a bandeira verde e amarela com Pabllo Vittar, num país campeão de assassinatos do grupo LGBTQIA+ e profundamente dividido, com o bolsonarismo monopolizando a bandeira nacional como sua.

Os casamentos, em tese, unem “na alegria e na dor”. Os brasileiros de todas as regiões, religiões e partidos, lulistas, bolsonaristas ou independentes, se uniram na alegria em Copacabana e na dor no Sul, em grandes demonstrações de solidariedade. Até campeões de surf correram para ajudar no resgate de grávidas, bebês, velhos e pets. São de esquerda? De direita?

Mais do que simbólicas, as reuniões de Lula com o governador Eduardo Leite, ministros e presidentes de Poderes produziram ações de emergência e de reconstrução: verbas sem limites fiscais, renegociação da dívida, flexibilidade para gastos, canalização de emendas.

As Forças Armadas saem de manchetes sobre golpes e entram com 13,4 mil homens, helicópteros, aeronaves. O MST, sempre tão demonizado, distribui milhares de quentinhas. Ambos levando segurança e alento para milhares que perderam tudo e saíram de suas casas sem ideia de quando, e se, vão voltar. A tragédia apagou o passado e não desenha o futuro. Devastador, mas a mão amiga, o prato de comida, a garrafa d’água, o cobertor… vão ficar para sempre na memória de quem doou e de quem recebeu.

O difícil é a solidariedade e a união durarem. Os Poderes e a solidariedade são rápidos na emergência, mas logo recuam quando as águas secam e as vítimas são enterradas. Acabou o show de Madonna? Parou de chover? Junto com o Guaíba, a guerra entre os Poderes, os interesses mesquinhos, a polarização e a incivilidade também voltam ao “normal”.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

O que é uma pena!