domingo, 18 de agosto de 2024

Eliane Cantanhêde - Silvio Santos não veio aí!

O Estado de S. Paulo

O ‘Berlusconi do Brasil’ não passou de um voo de galinha nas eleições de 1989 e de 2002

Primeira eleição direta após a ditadura militar, a elite apavorada com o “risco” de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva ou de Leonel Brizola e a surpresa Fernando Collor de Melo disparando. Era 1989 e um passarinho me alertou para uma reunião sigilosa que aconteceria num resort às margens do Lago Paranoá em Brasília, no dia seguinte. Foi nessa reunião que Silvio Santos disse sim à aventura de concorrer à Presidência da República.

A Academia de Tênis Resort tinha bangalôs, com os quartos em cima e garagens individuais em baixo. Pedi um copo d´água ao motorista e fui ficando por ali, o suficiente para ouvir fragmentos da conversa que ocorria logo acima. Corri para a redação do Estadão e escrevi o que imaginei ser a manchete do dia seguinte: Silvio Santos candidato! Mas o jornal achou tão absurdo que só publicou discretamente uns poucos parágrafos.

Essa história está relatada no livro “O Sonho Sequestrado”, do médico, ex-senador e ex-deputado Marcondes Gadelha (PB), um dos “autênticos do MDB”, grupo à esquerda do partido na ditadura, que depois migrou para o PFL, liberal, na redemocratização. Ele foi um dos mentores da candidatura Silvio Santos e vice na chapa. Foi assim que Gadelha e os também senadores do PFL Hugo Napoleão (PI) e Edison Lobão (MA) viraram “os três porquinhos”, numa alusão à “lambança” tentada em 1989. E Collor venceu, depois afastado e, enfim, alvo de impeachment. Silvio Santos, gênio dos negócios e da comunicação, não era político, nunca teve de fato um partido, nunca geriu recursos públicos, não entendia nada de Congresso, mas o trio pefelista sonhava derrotar tanto Collor quanto Lula e Brizola, reproduzindo no Brasil o fenômeno Sílvio Berlusconi na Itália. Que, aliás, já era escandaloso por lá.

A Justiça Eleitoral deu um jeito, cassando a candidatura sob pretextos burocráticos contra o partido de Silvio Santos, o PMB. Na verdade – e isso é o que Gadelha conta no livro – a aventura desmoronou pela ação ativa e implacável de setores do Judiciário, do próprio Legislativo e da mídia. A ascensão e queda do voo de SS na política foi meteórica, mas houve uma segunda tentativa.

Em 2002, o nome de Silvio Santos foi jogado novamente no ar. Em abril, a seis meses das eleições presidenciais, com Lula já disparado na frente, contra José Serra, Ciro Gomes e Anthony Garotinho, SS já chegou na corrida com 17,8% na CNT-Sensus, em segundo lugar. Foi um novo voo de galinha e, assim, o Brasil seguiu com seus solavancos políticos, mas manteve o seu maior comunicador até o fim e livrou-se de uma aventura de consequências inimagináveis.

 

2 comentários:

Paulo ANDION disse...

Por traz de todos esses fatores acontecia a criação do Mercosul através da ALAD, ALAC e outros e por conseguinte o Parlamento Latino Americano enquanto os militares tomavam conta da diretoria dos Sindicatos do ABC Paulista, chegando ao ponto da justiça cobrar cem mil por dia de Greve, anos mais tarde, sem contestações por parte dos sindicatos com uma grande poupança do bolso dos trabalhadores do Brasil e aí se explica a polaridade atual ou seja, OS MESMOS.

ADEMAR AMANCIO disse...

Silvio Santos,o homem sorriso do rádio.