Um dia depois de ver seus quadros se digladiarem pela vaga no Ministério do Turismo, o partido realiza conferência
Pedro Venceslau
O conturbado processo de escolha do sucessor de Pedro Novais no Ministério do Turismo escancarou a divisão interna do PMDB e deixou no ar uma pergunta: afinal, quem manda no partido? A cada nova crise envolvendo a sigla, até a presidente Dilma Rousseff encontra dificuldade em decifrar esse mistério.
O perfil do novo titular da pasta, o deputado maranhense Gastão Vieira, indica que a palavra final foi do senador José Sarney, seu padrinho político.
Mas quando o martelo foi batido no Palácio do Planalto, por volta das 23h de quarta-feira, a expectativa geral no Congresso era que o novo ministro fosse o deputado Manoel Júnior (PB) ou outro parlamentar da cota de Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara.
O cabo de guerra não deixou dúvidas que, hoje, o poder de distribuir os cargos oferecidos pelo Planalto está concentrado em uma trinca.
Sarney representa o Senado, Alves a Câmara e Michel Temer faz o papel de interlocutor entre as facções.
Ao BRASIL ECONÔMICO, um dirigente peemedebista que passou o dia na lista de “ministeriáveis” fez um desabafo.
“Henrique está muito desgastado devido a sua rusga com o PT.
A decisão de Dilma foi tomada devido a fragilidade da bancada do PMDB na Câmara.
Gastão Vieira não é o melhor nome, mas apenas o menos problemático”.
Até o fechamento da edição, Alves não retornou as ligações para comentar o caso.
Um dos nomes da lista de Alves, o deputado Marcelo Castro (PI) diz que não ficou frustrado por ter sido preterido e reconhece: “Pode se dizer que foi uma vitória do Sarney.
De qualquer maneira, a bancada tomou a decisão de liberar a escolha para a presidente para evitar problemas internos”, diz Castro.
Nos intervalos do Fórum peemedebista em Brasília, ontem, caciques do partido que estão sem gabinete no parlamento reclamaram que estão alijados do processo e lembram que as eleições municipais estão logo ali.
Mas quando são instados a falar em “on”, o discurso muda.
A tônica oficial ontem entre os principais líderes do PMDB foi a mesma.
Todos negaram qualquer sequela por causa da troca do ministro do partido.
“O rodízio entre auxiliares e assessores é natural”, afirma o senador Valdir Raupp (RO), presidente nacional do PMDB.
No atual cenário do poder penalista, a fragilidade das pontes entre Senado e Câmara reforça o papel de Temer.
“Ele é a dobradiça de vários interesses do PMDB.
Essa foi sua condição de origem dentro do partido.
Trata-se do vice mais forte que já tivemos no Brasil”, pondera o cientista político Carlos Novaes, da consultoria Geopolitics.
“Já o Sarney tem muitas relações de lealdade e devedores por toda parte, enquanto Alves é um interlocutor natural por ser líder da Câmara”, conclui.
O deputado federal Gastão Vieira (PMDB-MA), que toma posse hoje, se reuniu ontem de manhã com o ex-ministro Pedro Novais.
Segundo a assessoria da pasta, a visita foi para conhecer o gabinete e os trâmites do trabalho no ministério.
A reunião terminou pouco antes das 13h, e Gastão Vieira saiu sem falar com a imprensa.
Na conversa em que formalizou o convite para Vieira, Dilma pediu que ele se concentrasse no plano da Copa de 2014.
Durante seu Fórum, o PMDB vai lançar as diretrizes para as eleições municipais de 2012.
Entre os palestrantes, está a mais nova estrela da legenda, o deputado federal Gabriel Chalita.
O presidente do partido, Valdir Raupp, também quer aproveitar o evento para lançar campanha de arrecadação que financie a construção da nova sede.
Caravanas de todos os estados desembarcaram em Brasília para o Fórum, que custou cerca de R$ 200 mil, segundo dirigentes.
“A questão do Turismo é uma página virada.
Nós vamos discutir o partido”, diz o ex-ministro baiano Geddel Vieira Lima, que também passou o dia na lista de “ministeriáveis”.
O PMDB espera, em 2012, lançar o maior número de candidatos a prefeitos nas capitais e grandes cidades.
“Cresce no partido a convicção de que é preciso entrar na dinâmica executiva”, diz Carlos Novaes.
ANÁLISE
Mais um ministro sem experiência no Turismo A escolha do deputado federal Gastão Vieira para comandar o Turismo foi mal recebida fora dos muros do PMDB.
Assim como seu conterrâneo maranhense Pedro Novais ele também não tem familiaridade com o assunto.
Parlamentar em quinto mandato, Gastão já exerceu cargos executivos no Maranhão, mas nunca na área do turismo.
“O Brasil está se preparando para receber a Copa e as Olimpíadas, que é muita responsabilidade.
O ministro não precisa ser um especialista, mas pelo menos ter familiaridade com o tema.
Esse não é o caso de Gastão”, diz o deputado Jonas Donizette (PSB-SP), presidente da Comissão de Esporte e Turismo da Câmara dos Deputados.
Ele diz, ainda, que não há mais tempo para que o ministro aprenda o que e como fazer.
“Vamos fazer um requerimento para que o Gastão venha a Câmara para ser sabatinado”.
Um dos cotados para assumir o Turismo antes da escolha de Gastão Vieira, o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) discorda da tese.
“Isso de ter experiência é relativo. O José Serra não é médico, mas foi o melhor ministro da Saúde que o Brasil já teve”.
Apesar de ter deixado o cargo, o ex-ministro Pedro Novais não vai encontrar tranquilidade quando voltar ao trabalho na Câmara.
O PSOL vai apresentar nos próximos dias uma representação na corregedoria da Câmara por quebra de decoro parlamentar contra o ex-ministro do Turismo Pedro Novais, que pagou sua governanta de casa durante sete anos com verbas de gabinete.
O partido espera, porém, que a corregedoria se manifeste por iniciativa própria.
A presidente Dilma Rousseff decidiu ontem de última hora participar do Fórum do PMDB.
Ela discursou ontem para prefeitos, governadores, parlamentares e militantes do partido, que foi chamado de “aliado fundamental do meu governo”.
FONTE: BRASIL ECONÔMICO
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