Entrevista Pedro Simon
Para o senador gaúcho, a condenação de oito réus no julgamento do mensalão "abre caminho para diminuir a vergonha da impunidade no país." Em entrevista ao Correio, Simon também elogiou a campanha do jornal pelo fim do 14º e do 15º salários
Paulo de tarso Lyra
O senador Pedro Simon (PMDB-RS), acostumado a subir à tribuna da Casa para clamar por um país mais limpo e ético, comemora o fato de não ser mais um pregador perdido no deserto. "Hoje, há um clima de euforia, eu não tenho dúvida. O caminho foi apontado pelo Supremo Tribunal Federal", disse o senador, em entrevista exclusiva ao Correio. Simon elogiou o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pela maneira como estruturou a denúncia do mensalão, dividindo o processo em capítulos. O STF deixou o item referente ao ex-chefe da Casa Civil José Dirceu por último. "Foi uma decisão brilhnte", elogiou. O senador criticou a tese dos advogados dos réus de que tudo não passou de caixa 2, lembrando que os ministros desmontaram essa tese. "O engraçado é que o caixa 2 é corrupção, escândalo, roubalheira e imoralidade. Mas como é um crime menor e que já prescreveu, isso virou argumento da defesa. "Não, não tem nada a ver, é caixa 2, ele é um santo", dizem os advogados." Sobre a Lei da Ficha Limpa, Simon lembrou que uma série de candidaturas está sendo vetada e divertiu-se com um comunicado encaminhado pelo presidente de seu partido, o PMDB, senador Valdir Raupp (RO), aos diretórios municipais. O documento diz: "procurem não colocar na eleição candidato que tem problemas com a Lei da Ficha Limpa." Pedro Simon mantém os elogios à presidente Dilma Rousseff, embora ache que o governo está aquém das expectativas. E parabenizou o Correio Braziliense por conta da campanha pelo fim do 14º e 15º salários dos parlamentares. "Foi um ato sério, duro, mas não foi uma agressão gratuita. O jornal prestou um grande serviço ao país". Confira a seguir os principais trechos da entrevista com o senador.
O senhor sempre foi um otimista quanto ao futuro do país. O resultado do julgamento do mensalão no STF, com oito condenações até agora, surpreendeu?
Eu não digo que surpreende, porque havia uma expectativa. Agora, não há dúvida nenhuma de que foi um ato de genialidade do Supremo.
O julgamento representa uma mudança de paradigma? Ou estamos diante de um processo específico, de pressão popular e midiático?
Vamos partir de uma verdade transparente: o Supremo nunca fez algo parecido. Ao final da primeira etapa do julgamento, tivemos uma demonstração de muita competência do STF. Dou nota 10 também para o procurador-geral (Roberto Gurgel). Ele foi perfeito no conteúdo, perfeito no contexto e perfeito na denúncia que organizou. Hoje, há um clima de euforia, eu não tenho dúvida.
O que há de mais importante na primeira fase da análise do mensalão?
Eles (os ministros) sepultaram a tese do caixa 2. O engraçado que o caixa 2 é corrupção, escândalo, roubalheira e imoralidade. Mas como é um crime menor e que já prescreveu, isso virou argumento da defesa. Os advogados dizem "não, não tem nada a ver, é caixa 2, ele é um santo". Mas o voto do (ministro Dias) Toffoli foi triste, ele deveria ter se declarado impedido. Tudo bem, foi autêntico, não quis dar uma de bacana no final e provavelmente pensou: "estou enterrado, vou até o fim."
Hoje, o único exemplo de mudança no país é o julgamento do mensalão?
O mensalão e a Lei da Ficha Limpa são os grandes exemplos. Se fosse só o mensalão, sem a lei, não teria toda essa repercussão. O presidente do PMDB (senador Valdir Raupp) mandou uma circular para os presidentes dos diretórios municipais comunicando que, com a ficha limpa, as coisas complicaram e aconselhou a fazer uma seleção prévia dos candidatos. O texto diz: "procurem não colocar na eleição candidato que tem problemas com a Lei da Ficha Limpa."
Mas a população tem consciência disso?
No horário eleitoral gratuito, tem um espaço destinado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As mensagens sempre foram: "olhe, vote bem, vote com consciência". Agora, o tribunal fala para votar em "candidato ficha limpa" e coloca o rosto de quem foi condenado. É uma cobrança, o tribunal está fazendo um chamamento ao cidadão. O Brasil começa a seguir o caminho para diminuir a vergonha da impunidade que caracteriza a política brasileira. No Brasil, ladrão de galinha vai preso e rico contrata advogado. Lá fora, se você é condenado pode até recorrer, mas é preso. Aqui, você contrata um advogado para empurrar o processo com a barriga.
No imaginário popular, condenação pressupõe cadeia. Muito desses réus não serão presos ou, pelo menos, não serão presos imediatamente. Isso não diminui o impacto do resultado do julgamento?
O ideal é que a pessoa condenada vá para a cadeia. Acho que, dependendo do tamanho das penas, alguém vai para a cadeia, sim. Mas não creio que vai ser como muitas pessoas imaginam.
Depois de 12 anos, o Senado voltou a cassar um senador envolvido em atos de corrupção (Demóstenes Torres). Foi uma decisão específica ou aqui também há uma mudança de percepção em relação ao combate à corrupção?
É uma coisa interessante. O empresário aqui de Brasília (Luiz Estevão) foi cassado porque mentiu no Conselho de Ética. ACM (Antônio Carlos Magalhães) não foi cassado porque renunciou ao mandato. Jader (Barbalho) não foi cassado porque renunciou ao mandato. O Renan (Renan Calheiros), malandramente, renunciou à presidência do Senado para manter o mandato. O caso do Demóstenes é mais de psiquiatria do que de Código Penal. É impressionante a convivência entre as duas personalidades dele. Ele era o mais duro, o mais firme, o mais radical. Era brilhante. No entanto, tinha um outro cara. Ele foi cassado porque ficou com um desgaste muito grande perante a Casa e a sociedade.
E a CPI do Cachoeira? O senhor esperava algum desfecho que apresentasse resultado efetivo?
Uma das primeiras propostas que eu fiz quando cheguei aqui foi de fazer uma CPI dos Corruptores. Nós aqui só fazemos a CPI do ponto de vista do corrupto. De repente, aparece aqui o caso do Carlinhos Cachoeira. A polícia e a procuradoria já investigaram. Tudo o que a CPI está fazendo é não deixar o escândalo aparecer. Isso é um vexame. Já está tudo acertado. É o oposto do que aconteceu com Roberto Jefferson (PTB-RJ)
Como assim?
Esse moço (Jefferson) pode ter vários defeitos. Mas ele é o responsável por tudo o que está acontecendo agora. Quando apareceu o escândalo, ele poderia fazer como tudo mundo faz e tentar se defender. Ele não abaixou a cabeça, foi lá e denunciou tudo (o mensalão).
Há um ano, o senhor elogiou a presidente Dilma, afirmando que ela estava sendo corajosa nesse processo de faxina nos ministérios. Um ano depois, qual a análise? Os elogios estão mantidos?
Em primeiro lugar, eu ainda tenho respeito pela presidente Dilma. Ela demitiu os ministros, não fez muitos mais do que isso porque não tinha condições, mas demitiu. A presidente ainda não conseguiu encontrar "a Dilma da Dilma". Quem é o segundo no governo?
Além do aspecto ético, o governo claudica administrativamente?
Está aquém do que se esperava. Sou obrigado a reconhecer que a crise internacional é séria. Não é o ventinho que dizia o Lula. As coisas estão difíceis, porque está na cara que a Dilma não tem condições de indicar as pessoas que ela quer. Eu tenho medo nesse sentido. É surpreendente o Mantega (Guido Mantega) ter durado tanto tempo. Não consigo esperar dele uma grande ideia. A ministra do Planejamento (Miriam Belchior) a gente nem sabe quem é. E essa sempre foi uma pasta tão importante. Na época do governo militar, era até mais importante do que o Ministério da Fazenda. As grandes obras não andam.
E o fim do 14º e do 15º salários, aprovado pelo Senado mas que continua parado na Câmara? Qual a sua avaliação?
Eu achei sensacional porque tudo o que Senado fez, foi por causa do Correio. Todo mundo votou por causa do jornal. Foi um ato muito bacana do Correio. Um ato de sério, duro, mas que não foi uma agressão gratuita. O jornal prestou um grande serviço.
"O mensalão e a Lei da Ficha Limpa são os grandes exemplos. Se fosse só o mensalão, sem a lei, não haveria toda essa repercussão"
"O caixa 2 é corrupção, escândalo, roubalheira e imoralidade. Mas como é um crime menor e que já prescreveu, isso virou argumento da defesa"
"No Brasil, ladrão de galinha vai preso e rico contrata advogado. Lá fora, se você é condenado pode até recorrer, mas é preso"
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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