Houve um momento em que os abaixo-assinados pareciam tão fora de moda que uma amiga pensou em escrever uma peça chamada "O fim dos manifestos e os 3 Z", uma referência aos nomes que, por ordem alfabética, encerravam quase sempre esses documentos de protesto político nos anos 60: Zelito, Ziraldo e Zuenir. Mas eis que, de repente, eles voltaram a ser um eficiente instrumento de ação política, com a ajuda da internet. Foi graças a um deles, por exemplo, que surgiu uma revolucionária iniciativa popular: a Lei da Ficha Limpa. Reunindo 1,3 milhão de assinaturas, a petição virou projeto, que foi aprovado em 2010 na Câmara, no Senado e sancionado pela presidente da República. Como se sabe, a lei torna inelegível por oito anos o candidato que tiver o mandato cassado, renunciar para evitar a cassação ou for condenado por decisão de órgão colegiado.
As mais recentes manifestações dessa forma de profilaxia da vida política nacional são o "Fora Renan", com 1,6 milhão de assinaturas, já entregue ao Congresso, e o "Fora Marin" (José Maria), recém-lançado, mas já com mais de 30 mil assinaturas (uma das últimas, de Chico Buarque). Em 2007, o senador teve que renunciar para não ser cassado por corrupção. "O país está exigindo que nossa democracia seja respeitada", diz o texto. Os organizadores do movimento acreditam que a petição de impeachment, por ter alcançado o equivalente a 1% do eleitorado nacional, tenha força de lei de iniciativa popular.
Já o "Fora Marin" é uma iniciativa do Instituto Vladimir Herzog, presidido por Ivo, filho do jornalista torturado e morto nas dependências do Exército em 1975, em SP. Marin, presidente da CBF, é acusado de na época ter atiçado a repressão com falsas denúncias. "O maior representante do que de mais importante vai acontecer no Brasil do ponto de vista internacional, a Copa", acusa Ivo, "é esse cara, que foi a favor da prisão, tortura e morte daquelas pessoas que simplesmente pensavam de maneira diferente dele e de seus colegas", afirmou.
O colunista Juca Kfouri reforça a acusação: "Ele se desfazia em elogios ao torturador Sérgio Fleury, assim como engrossava "denúncias" sobre a existência de comunistas na TV Cultura, cujo jornalismo era dirigido por Vlado" (um desses petardos envenenados foi lançado dias antes da execução de Herzog). Além de admirador de Fleury e de deputado pela Arena, partido da ditadura, Marin foi vice-governador biônico de Paulo Maluf, a quem substituiu por um ano. Com essa ficha, soa como ironia ele ter adquirido tanto prestígio no país presidido por uma ex-torturada.
Fonte: O Globo
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