• Grande temor sobre desemprego não era visto desde 2001, e líderes políticos não conseguirão mudar quadro
Mauro Paulino - Diretor-geral do Datafolha - Alessandro Janoni - Diretor de Pesquisas do Datafolha
Nos últimos dois meses, continuou crescendo o grupo que reúne eleitores frustrados com Dilma Rousseff, isto é, aqueles que votaram na petista no segundo turno e que hoje a consideram ruim ou péssima na condução do país. Eram 15% em abril e totalizam agora 20%.
Parte de seus eleitores que na ocasião estavam apreensivos ou satisfeitos, passaram agora a reprová-la.
O índice recorde de impopularidade a coloca em patamar semelhante ao de Collor em véspera de impeachment e ao de Sarney em final de mandato. E não por acaso, a economia e o desemprego, que há algum tempo não figuravam como problemas primordiais do país, voltam agora a assombrar o imaginário dos brasileiros.
Com isso, outro time passa a ocupar o vácuo de liderança política, jogando para a torcida. A desarticulação do governo deixa espaço para que a pauta do Congresso se cole na opinião pública no auge da crise de representação. As inversões de posicionamento da maioria quanto à reeleição e ao voto facultativo ilustram o terreno movediço e sensível sobre o qual o Legislativo age, desprezando o debate e a participação.
É revelador, portanto que, em momento econômico tão nebuloso e determinante da opinião pública, muito mais brasileiros tenham ouvido falar de Renan Calheiros, Eduardo Cunha e Michel Temer do que de Joaquim Levy.
Para reverter o quadro, Dilma teria que reconquistar ao menos parte de seus eleitores, já que o conjunto dos que não a elegeram é extremamente refratário à presidente.
A identificação da variável de maior peso na corrosão de sua imagem é fundamental para projetar perspectivas de eventual recuperação.
Não há dúvidas de que a economia do país é o fator determinante, mas quais são os vetores econômicos de maior correlação com a curva negativa da petista? Uma análise estatística feita pelo Datafolha indica que as expectativas da população quanto à influência da crise no seu dia a dia explicam mais a evolução da impopularidade da petista do que, por exemplo, o comportamento da taxa real de inflação ou do índice oficial de desemprego.
O grau de correlação entre a variação do IPCA acumulado de 12 meses, com a curva de popularidade de Dilma Rousseff ao longo de seu mandato até alcança um escore alto, mas fica bem abaixo da influência exercida pelo pessimismo sobre o poder de compra dos salários e também da expectativa de aumento do desemprego.
Aliás, temor tão grande em relação ao desemprego não se vê desde junho de 2001, no segundo mandato de FHC. Esse baixo-astral coletivo deve manter-se enquanto a percepção de risco prevalecer na população.
Hoje, líderes políticos, tanto de governo quanto de oposição, mal avaliados mesmo adotando agenda de fácil apelo popular, não conseguirão mudar o quadro até que ao menos parte dessa insegurança se dissipe.
Momento crucial será o final de 2015, início de 2016, período em que o plano das percepções costuma deparar-se com a realidade.
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